A teoria dos elementos básicos que compõem a natureza é antiguíssima e várias culturas do mundo a incluem em suas tradições filosóficas, religiosas ou medicinais. Desde o tempo das cavernas através do Xamanismo, sendo encontrada nas escrituras sagradas da Índia tal como o “Bhagavad Gita”, na base filosófica da medicina indiana Ayurvédica, na China com a Mandala dos Cinco Movimentos, no Japão com os Cinco Elementos do Budismo (Godai), na antiga filosofia grega com os Cinco Sólidos Platônicos, entre outras.
O nome dos elementos são simbólicos, para facilitar sua compreensão usamos a analogia com os elementos conhecidos na natureza (Terra, Água, Fogo e Ar). Eles definem qualidades e modos de ação específicos, demonstram as forças externas e internas presentes em toda a natureza.
Para o xamanismo, a mesma força que habita na natureza, habita em nós. Os xamãs por meio da observação da Natureza e sua interpretação através da analogia dos elementos terra, fogo, ar e água, deixaram de procurar uma causa sobrenatural para as desarmonias e passaram a entender melhor como restabelecer e manter o equilíbrio externo e interno. O quinto elemento xamânico é o Espírito.
“Terra, água, fogo, ar e éter, vidas, intelecto e espírito – tudo isto são revelações do meu ser.
Eu sou o sabor da água que bebes; eu sou o fulgor da lua e do sol; eu sou o AUM dos cânticos sacros dos Vedas; eu sou a harmonia dos espaços; eu sou a força procriadora dos homens.
Eu sou a fragrância da terra; eu sou o brilho do fogo; eu sou a vida de todos os vivos.
Tudo isso são aspectos finitos da minha infinita Realidade; mas nada disto é minha Essência Cósmica que é a Consciência Vital pela qual todo esse Universo visível é sustentado.
Eu porém, sou a Essência de tudo quanto existe; eu sou o princípio dos mundos e eu sou o fim” (Bhagavad Gita).
Terra, Água, Fogo, Ar e Éter, para a Ayurveda tudo no universo é formado a partir destes elementos.
Na Teoria Oriental dos Elementos, atribui-se a Lao-Tsé, o mais conhecido sábio do Taoísmo, o registro mais antigo a comentar de TAO, palavra de difícil tradução, que pode ser entendido como “Caminho, modo de ser e agir”. Demonstra a dualidade primária do universo, o YIN e o YANG e tem como principais características o Masculino e o Feminino, Seco e Úmido, Quente e Frio e Dia e Noite, não tendo sob nenhuma hipótese qualquer relação com a idéia de bem e mal. O mesmo diz Chou Lien-hsi, ao afirmar que o “Tai Chi” (“Grande Energia”) produz o YIN e o YANG, que produzem os Cinco Elementos (MOORE, 1978).
Na China os cinco elementos são melhores compreendidos como os cinco movimentos dos fenômenos naturais. A Madeira representa o movimento expansivo e exterior em todas as direções, o Metal representa o movimento contrário de interiorização, a Água representa o movimento de descida, o Fogo representa o movimento de subida e a Terra representa estabilidade e o centro de referência. Os Cinco Elementos ou Cinco Movimentos se inter-relacionam e se transformam de forma cíclica. Matematicamente é possível 36 formas de inter-relações entre os Cinco Elementos.
A antiga tradição japonesa , por meio da filosofia budista é o terceiro pilar do pensamento chinês, que nasceu no século VI a.C., na Índia com um homem conhecido como Siddartha Gautama. Seguindo a tradição chinesa, a tradição japonesa se baseia não só da interação entre os dois pólos fundamentais do universo, como também dos cinco elementos e que esses se combinam de diversas maneiras para criar tudo o que existe no mundo. O Godai, literalmente, os “Cinco Grandes”, é formado pelos cinco elementos: Terra, Água, Fogo, Vento e Vazio e, ao contrário dos elementos chineses que são movimentos de energia, o Godai se aproxima mais do conceito que nós ocidentais temos por elementos.
Platão, filósofo grego, que viveu entre os séculos V e IV a.C., promoveu a Teoria Atômica e Geométrica dos Cinco Elementos. Os sólidos de Platão também são denominados de poliedros, pois são formados por faces, arestas e vértices.
O Tetraedro, pirâmide de três lados, representando o Fogo:
O Octaedro, pirâmide de quatro lados dupla, representando o Ar:
O Icosaedro, 12 vértices, 30 arestas e 20 faces triangulares, representando a Água:
O Hexaedro, 8 vértices, 12 arestas e 6 faces retangulares, representando a Terra:
O Dodecaedro, 20 vórtices, 30 arestas e 12 faces pentagonais, representando o Quinto Elemento:
Aristóteles, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, viria a acrescentar a noção das 4 qualidades: Frio, Quente, Seco e Úmido. Sendo a Água a fusão das qualidades fria e úmida, o Fogo quente e seco, o Ar quente e úmido e a Terra fria e seca. Aristóteles considerou o Quinto Elemento, que chamou de Éter, sendo um elemento que só existe na esfera supra lunar, ou seja, no espaço em volta da Terra.
Os antigos já diziam que, no princípio, o Uno se manifestou à forma de universo em termos de dualidade, isto é, os pares de antagonistas. Destas duas polaridades, se deu origem às quatro qualidades primitivas de quente e frio e de úmido e seco. Dois destes quatro antagonistas se unem numa combinação formando um elemento. O quente e o seco formam o elemento Fogo; o seco e o frio formam o elemento Terra; o quente e o úmido formam o Ar; o frio e o úmido formam a Água.
O grego Hipócrates, pai da medicina ocidental associava aos quatro elementos os quatro humores: Sanguíneo/ Emotivo (Fogo), Colérico (Ar), Fleumático/”Não Emotivo” (Água) e Melancólico (Terra), e ministrava tratamentos similares. Esta teoria influenciou, por exemplo, Galeno, o qual influenciou a ciência médica ocidental por mais de um milênio.
Apesar da ampla semelhança entre os conceitos milenares do oriente com os conceitos da Grécia antiga, berço da civilização ocidental, há uma grande diferença entre a ciência antiga e a ciência moderna iniciada pelos gregos. Enquanto que, a ciência antiga formulava um conceito que podia abranger tudo do ponto de vista abreviado, intuitivo e metafísico, a ciência atual é meramente experimental e analítica.
Os antigos não tinham laboratório e nem tão pouco os preocupava a questão da última divisão da matéria tal como mais tarde veio a ocorrer com Lavoisier; não lhes importava a tabela periódica de Mendeleev (EU WON LEE, 2002).
Na década de 1920, porém, a física passou por uma mudança colossal que a levou da sua antiga condição determinística clássica a uma nova física. Nessa nova física, chamada de física quântica, os objetos são descritos como ondas de possibilidade que podem estar em dois (ou mais) lugares ao mesmo tempo. No entanto, nenhuma lei física e nenhum algoritmo consegue determinar em que lugar um objeto se manifestará numa dada medição (GOSWAMI, 2006).
A teoria dos elementos da natureza pode parecer para alguns ingênua, no entanto, originalmente, é algo bem justificado. Com o novo advento da física quântica, a Ciência moderna poderá finalmente voltar a fazer as pazes com a Espiritualidade, ao nos deslumbrarmos com os mistérios do universo manifestado no quantum da matéria. Será que em pleno século XXI a Física Quântica chegará na mesma conclusão que os antigos Xamânicos?
Patricia Martins Leite
10/10/2017