MESTRE ECKHART

Eckhart de Hochheim
(Tambach, Turingia, 1260 – Colonia, 1327)

Eckhart de Hochheim, 
mais conhecido como Meister Eckhart 
em reconhecimento aos títulos acadêmicos obtidos durante 
sua estadia na Universidade de Paris 
(Meister significa “maestro” em alemão), 
foi um frade dominicano,
conhecido por sua obra como teólogo e filósofo 
e por suas visões místicas.
Embora a Igreja patriarcal de Roma tendesse a impor uma atmosfera intelectual rígidamente controlada conforme seus objetivos e interesses temporais, a presença da filosofia espiritualista de Platão e dos Neoplatônicos nunca foi totalmente suprimida, durante a Idade Média.

Até mesmo entre os padres da escolástica medieval, que mergulhava cada vez mais o mundo num universo cheio de dogmas superficiais, havia um certa saudade de uma pureza mística, pois o que é essencial é o retorno da alma a Deus, a sua união com Deus.

Foi neste ambiente propício, talvez não por acaso, que surgiu o mestre dominicano Eckhart, um dos maiores lumiares da filosofia medieval e do misticismo do ocidente, e sobre quem falaremos agora.

Mestre Eckhart nasceu em Hochheim, na Turíngia, em 1260. Ingressando no convento dos dominicanos de Erfurt, estudou em Estrasburgo e em Colônia. Tornou-se mestre em Teologia e ensinou em Paris entre 1302 e 1304. Exerceu vários cargos eclesiásticos na Alemanha. 

Estabeleceu-se definitivamente em Colônia em 1320. Escreveu várias obras, entre elas Pregações e Tratados. Em sua obra está muito presente a unidade entre Deus e o homem, entre o que consideramos sobrenatural e o que achamos ser natural. É um pensamento holístico, pois.

Como afirmava Plotino, Eckhart também acreditava que sem um algo, a que chamamos Deus, o homem e o mundo não teriam nenhum sentido e nada seriam. Alguma “coisa” tem de dar sentido a tudo o que existe. Tudo tem de ter uma razão de ser. 

Na verdade, não existe um mal absoluto, existe tão só o erro na busca da evolução da alma. Tudo está imerso numa Unidade. A Unidade é dinâmica e é diversidade, assim como as sete cores são o arco-íris. Somos frutos, mas os frutos nascem de uma árvore, e o fruto carrega a árvore. Assim, somos filhos de Deus, mas também somos Deus. E assim tudo reafirma a Unidade. E tal é o poder que temos, que o mundo sempre será para nós aquilo que dele pensarmos. Mas o Deus “que está em todas as criaturas é o mesmo que está acima delas, pois aquilo que é Uno deve ser mais que a mera soma das coisas”. Isto é um belíssimo exemplo do que hoje entendemos por pensamento holístico.

Bom, se tudo existe por que uma causa os fez existir, qualquer que seja o nome que dermos a esta causa, ela estará acima do fruto que dela veio. Bom, se considerarmos que tudo o que existe existe por obra do Ser Divino, isso significa que temos uma razão de existir, pois o Supremo não faria nada de inútil. Sendo assim, Ele terá necessariamente de amar a seus frutos. Por isto existe uma Unidade entre Deus e o homem. E é por essa razão que o homem sente-se atraído e tenta voltar a Deus, pois é na União que há sentido, sem que haja anulação. 

Para isso, para poder ir de encontro a Deus, o homem deve ser livre: “Livre espírito é aquele que não se preocupa com nada e a nada se liga” (isso lembra a mensagem budista do desapego), “já que se aprofunda na amantíssima vontade de Deus”. E quem tem Deus, ou seja, quem o encontra em si mesmo “o tem em todos os lugares, nas ruas e entre as pessoas, da mesma forma que na Igreja, na solidão ou na cela”. Se ele O encontrou realmente, encontrou a pérola de grande valor, e fará de tudo para mantê-la consigo. Se ele a possui verdadeiramente, ninguém que não a possua também poderá perturba-lo. E se o tem, exatamente por também a ter, não irá perturba-lo. Assim, para Eckhart, por que não nos abandonarmos em Deus? Jesus não disse que “as aves do céu não amontoam em celeiros, nem cultivam, mas mesmo assim o Pai do Céu não as alimenta? Não sóis vós mais que as aves?”

Devemos reconhecer Deus em nós, mas este caminho não é fácil. O homem deve se “exercitar nas obras, que são seus frutos”, mas, ao mesmo tempo, “deve aprender a ser livre mesmo em meio às nossas obras”.

Eckhart morreu em 1327. Em 27 março de 1329, mais uma vez a infalibilidade papal se fez presente onde não compreende o transcendente. Neste dia foi dado ao público a bula “In agro dominico”, através do qual o Papa João XXII condenou vinte e oito proposições do Mestre Eckhart. Das vinte e oito, dezessete foram consideradas heréticas e onze consideradas escabrosas e temerárias. Entre estas, estava a de que nos transformamos em Deus. Mas esta condenação papal justifica-se na medida que as idéias de Eckhart tinham uma dimensão revolucionária. Elas foram acolhidas pelas camadas populares e burguesas, que interpretavam o apelo eckhartiano à interioridade da fé e à união divina como uma rebelião implícita à exterioridade “farisáica” de uma hierarquia e de um clero moralmente decadente (parece que a coisa nunca mudou muito mesmo). Sua herança influenciou, entre outros, significativamente, a Martinho Lutero.
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eckhart-von-hochheimPensamentos de  Eckhart

 

Ele [Deus] é a riqueza em profusão porque é Um. Ele é o primeiro e o supremo porque é Um. Por isto, o Um penetra todas e cada uma das coisas, e permanece Um, unificando o separado. Por isto é que seis não são duas vezes três, mas seis vezes Um.

Se te amas a ti mesmo, ama os outros do mesmo modo. Enquanto amares uma única pessoa menos do que a ti mesmo, não conseguirás amar a ti mesmo.

Enquanto eu sou isto ou aquilo, eu não sou todas as coisas simultaneamente.

O Silêncio é a entrada predileta no Reino de Deus e na Vida Eterna.

Há um Silêncio enorme em nós que nos chama acenando, e a entrada neste Silêncio é o começo de um ensinamento sobre a linguagem do céu. Porque o Silêncio é, em si, uma linguagem de profundidade infinita, mais fácil de entender porque não contém palavras, mais rica em compaixão e em eternidade do que qualquer forma de expressão humana. Não há nada no mundo que se pareça tanto com Deus quanto o Silêncio.

Se ‘obrigado’ fosse sua única prece, seria suficiente.

Nada faz de alguém um verdadeiro ser humano, a não ser renúncia à sua vontade. Em verdade, sem renúncia à vontade própria em todas as coisas nada conseguiremos perante Deus.

Tu deves te entregar a Deus com absolutamente tudo, e não te preocupares com o que Ele faz do que é teu.

Só será uma vontade perfeita e verdadeira aquela que entrar inteiramente na Vontade de Deus, despojada de vontade própria. E quem mais longe tiver ido neste ponto, tanto mais e mais verdadeiramente terá ascendido a Deus.

Em verdade, um homem que se tenha despojado inteiramente do que é seu estará de tal modo envolvido por Deus, que nenhuma criatura o conseguirá tocar, sem tocar primeiro em Deus. E aquilo que chegar até ele, deverá primeiro passar por Deus; aí, receberá primeiro o Seu sabor e se tornará divino.

mest 12Pratique o jejum da fala.

Todo ser humano é de sangue real. Nasceu das profundezas mais íntimas da Natureza Divina e é representante de Deus para espalhar amor e recriar permanentemente toda a Criação Divina.

Na alma, há uma potência da qual já falei várias vezes… Se a alma inteira fosse ela, seria incrível e inacreditável.

A faísca da alma é criada ou incriada? É dada. A alma é presenteada por Deus; é um presente conjugal.

O homem humilde e Deus são um. O homem humilde tem tanto poder sobre Deus como sobre si mesmo.

O mesmo conhecimento no qual Deus se conhece a Si mesmo é o conhecimento de qualquer espírito desapegado, e não é outro.

O olho com o qual vejo Deus é o mesmo olho com o qual Ele me vê. Meu olho e o olho de Deus são um só olho, uma só visão, um sóconhecer e um só amar.

Deus está em todas as criaturas [imanência], pois elas têm uma essência; mas, nem por isto Deus deixa de estar acima delas [transcendência]. E Ele, que está em todas as criaturas, é o mesmo que está acima delas, pois, aquilo que é uno em muitas coisas deve estar necessariamente acima das coisas.

Quando digo que Deus não é o Ser, mas que está acima do ser, com isto, eu não Lhe tirei o Ser. Ao contrário, eu O enobreci.

Isto é tudo o que um anjo é: uma ideia de Deus.

filipeta produta