Nikos Kazantzakis
(Creta, 1883 –  Alemanha, 1957)

nikos 1Existem duas personalidades que passaram por nossas vidas e marcaram a nossa alma para sempre. 

Um deles foi Tolkien, autor do livro hoje tão em moda: Senhor dos Aneis. O outro foi, sem dúvida alguma Nikos Kazantzakis.
 

 Nascido em 1883 na ilha de Creta, ele foi o mais notável escritor, filósofo e poeta grego do século passado. 

Teve uma vida tão movimentada e intensa como o enredo dos livros que escreveu.

Cursou direito na Universidade de Atenas e Filosofia em Paris. Lutou como voluntário nas guerras balcânicas por volta de 1906. Quando as lutas cessaram ele viajou para muitos países europeus e asiáticos, documentando tudo que via. 

 Sente-se em sua obra uma forte influência dos grandes autores clássicos gregos, dos filósofos Nietzsche e Bergson e de filosofias como o cristianismo, o marxismo e o budismo. Ele, em seu trabalho, ao tentar conciliar estas visões, às vezes tão conflitantes, criou uma nova forma de atingir o coração dos homens despertando lá a sua memória mitológica, povoada por símbolos arquetípicos e imagens heróicas que se perderam nos tempos. 

 Numa época onde nossos heróis são figuras cinzentas, medíocres, mesquinhas, popularescas e contaminadas pela corrupção viciosa desta era que chega ao fim, Kazantzakis vem nos dar esperanças ao falar de uma nova forma de civilização que nasce em suas entrelinhas, se fortalece em suas palavras e se manifesta em suas imagens e personagens. 

 No Imagick é leitura obrigatória o seu livro “Alexis Zorba”, que foi levado ao cinema sob o título de “Zorba o Grego”. Trata-se de um hino à vida, um poema a liberdade e um convite para experimentarmos a grande aventura de ‘ser humano’. 

Eleni – Sua esposa

 Talvez sua obra máxima seja Odyssey, um poema épico moderno escrito em 33.333 versos. 

 Foi excomungado pela igreja por causa de seu polêmico romance “A Última Tentação de Cristo” que, a poucos anos, foi filmada por Martin Scorsese, recriando a velha onda de indignação dos cristalizados. 

 Kazantzakis morreu na Alemanha em 1957, onde foi enterrado.

filipeta

“Texto de Nikos Kazantzakis”

kazan1“Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que uma borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito e eu estava com pressa.

Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com meu hálito. Eu esquentava impaciente e o milagre começou a acontecer diante de mim, em um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu se arrastando. Nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas, com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava para desdobrá-las.

kazantzakisCurvado por cima dela, eu ajudava com meu hálito. Em vão. Era necessário uma paciente maturação, e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente, ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada antes do tempo. Ela se agitou desesperada e, alguns segundos depois, morreu na palma de minha mão.

Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. Hoje entendo bem isso, é um pecado mortal forçar as grandes leis.

Temos que não nos apressar, não ficar impacientes, seguir com confiança o ritmo eterno”.

ZORBA Texto de Nikos Kazantzakis

filipeta

martok