image6L3Muitos problemas poderiam ser evitados se a paranormalidade fosse aceita como um dado da realidade. O tabu que ainda a envolve, faz as pessoas que vivem experiências paranormais entrarem em crises emocionais por causa do medo da reação dos outros, que poderiam considerá-las “loucas”. 
.

POR FREDA MORRIS
.

As pessoas que vivem experiências paranormais em geral são acometidas por medos e superstições. Existe uma controvérsia sobre o que é a causa, o que é o efeito: se o fenômeno paranormal ou a perturbação emocional. Esta última posição – que afirma que todo fenômeno paranormal é apenas o produto de mentes perturbadas -, é muito semelhante à de nossos antepassados diante de novas teorias científicas como a de que as doenças são causadas por vírus e bactérias e não pela ira dos deuses, ou como a de que o Sol, e não a Terra, é o centro do universo.

Da mesma forma, o medo e a superstição do homem primitivo diante dos elementos da natureza e das doenças não são muito diferentes das emoções que o homem sente hoje diante dos fenômenos que ainda não conseguiu explicar. Paradoxalmente, as sociedades primitivas dão todo apoio às manifestações psíquicas de seus membros, enquanto o homem civilizado, ao contrário, se sente pressionado a esconder suas experiências paranormais.

image3FNHistoricamente, os conselheiros religiosos das várias comunidades davam a orientação e o apoio necessários aos indivíduos que entravam em contatos com outras dimensões de vida. Com o tempo, a civilização e a Igreja foram deixando de aceitar qualquer manifestação dos fenômenos psíquicos. Depois de alguns séculos de total obscurantismo em relação a todas as manifestações paranormais, a partir do início do século 19, começaram a surgir na Europa a nos Estados Unidos os primeiros cientistas interessados em estudar esse campo inexplorado do comportamento humano.

Alguns médicos passaram a usar as técnicas hipnóticas de Mesmer para ajudar os pacientes com problemas psíquicos. O transe hipnótico facilita as experiências de clarividência, telepatia, viagem fora do corpo a outras ocorrências similares.

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, mais para o fim de sua vida, estudou os fenômenos paranormais. Outros nomes importantes na psicanálise dedicaram anos de pesquisa e estudo aos fenômenos paranormais. Entre eles, Carl Jung, Sandor Fereczi e Nandor Fodor. Jung foi interessado durante toda a sua vida pelos fenômenos psíquicos; investigou-os a elaborou teorias que se tornam a cada dia mais populares. Jan Ehrenwald, Jule Eisenbud e Ian Stevenson são alguns dos importantes psiquiatras que se dedicam à exploração da psicodinâmica das experiências psíquicas.

Entre os psicólogos humanistas, encontramos um bom número de interessados nos fenômenos psíquicos, especialmente agora, depois que o zen e a ioga deram ao homem ocidental uma visão mais ampla da atividade mental. 

imageVTOSe os cientistas ainda caminham timidamente no campo dos fenômenos paranormais, é extremamente compreensível que os indivíduos comuns tenham verdadeiro pavor de lidar com esses mesmos fenômenos.

É claro que as reações emocionais diante das experiências psíquicas variam de indivíduo para indivíduo, dependendo de sua personalidade e do conteúdo emocional de sua experiência.

É comum que alguém que de repente vive uma experiência paranormal, se isole socialmente, com medo de compartilhar suas dúvidas e ansiedades em relação ao assunto e ser olhado como “estranho”, “desequilibrado” e até mesmo “louco”. Dessa forma, ele se sente solitário e desprotegido, justamente num momento em que precisaria de solidariedade e estímulo para viver e aprofundar suas novas experiências, com as quais poderia ganhar muito.

Quando, por exemplo, a experiência paranormal envolve a movimentação de objetos – camas que andam, vasos que voam, armários que caem pela casa -, o indivíduo em questão entra em pânico temendo pela segurança física sua e de seus familiares. 

133133-medium[1]Quando a experiência envolve comunicação com espíritos de pessoas que já morreram, o indivíduo em geral é acometido por um terrível medo da morte, que pode assumir formas diferentes, psicose, neurose, obsessão, compulsões ou reações psicossomáticas (dores de estômago, de cabeça, crises de fígado, mau funcionamento dos intestinos, reumatismo etc.). Frequentemente tudo isso é acompanhado por pesadelos ou insônia.
 

Um sonho igual à realidade

Muitas pessoas são obrigadas a recorrer a uma terapia depois de viverem uma experiência paranormal. Temos alguns casos que ilustram bem isso, como o de um paciente chamado Brian, um feliz e bem-sucedido chefe de família.

Brian estava tirando um cochilo em sua cadeira, quando começou a sonhar que seu pai, vestindo um casaco xadrez, dirigia seu carro por uma estrada: Um caminhão que vinha à sua direita teve um pneu furado, virou, bateu no carro. O choque fez abrir a porta e o jogou na estrada, na direção de um Volkswagen azul, que desenvolvia uma velocidade alta (era uma via expressa).

Brian acordou aterrorizado, e, com base nos seus conhecimentos de psicanálise, interpretou que o sonho significava que ele odiava o pai. Nesse momento, Brian viu nitidamente uma figura diáfana, que sem dúvida alguma era seu pai, sorrindo e dizendo: “Filho, não me lamente”. A visão desapareceu, deixando Brian visivelmente abalado. Sua esposa perguntou delicadamente o que estava acontecendo, mas Brian não respondeu, com medo de que ela achasse que ele estava ficando louco.

Quando Brian começava a considerar que talvez estivesse trabalhando demais a precisava descansar, o telefone tocou. Era seu irmão dizendo que o pai deles acabara de morrer, num desastre numa estrada de rodagem. O irmão descreveu exatamente o desastre com o qual Brian sonhara. Ao contar que o pai fora atirado na estrada a então atropelado, Brian disse: “É, eu sei, por um Volkswagen azul. E papai estava usando um casaco xadrez”. O irmão ficou espantado, sem saber como Brian poderia estar a par daquelas coisas. 

imagePD4Nem Brian, naturalmente, sabia, e começou a se atormentar com mil questões: como poderia ter ficado sabendo daquelas coisas? Como as pessoas reagiriam quando ele revelasse seu sonho premonitório? Ele conseguiria admitir que seu pai continuasse vivo em espírito a tivesse se comunicado com ele logo após o acidente? O sonho havia sido um incidente casual ou existia alguma explicação mais ampla para o acontecido?

As reações mais comuns num caso como esse são as seguintes:

1  O medo da insanidade produz fortes defesas psicológicas cuja função é fazer esquecer o que aconteceu. Esta é a reação menos adaptativa.

2  A admissão da experiência (“claro, meu pai apareceu para mim em espírito’’.) não acompanhada de uma busca de aprofundamento a esclarecimento evita a ansiedade, mas mantém a ignorância. Nesse caso, se a experiência se repetir, a reação pode passar a ser a primeira.

3  A procura de explicação para o fenômeno. Esta reação, além de evitar a ansiedade, tem efeitos positivos. Brian decidiu fazer uma terapia e mais tarde foi encaminhado a um parapsicólogo. Alguns anos depois, ele já havia vivido outras experiências de premonição, sem pânico, a tirado benefício delas.

Muita gente que viveu experiências paranormais fica obcecada pela vontade de determinar se os fenômenos tinham existência real fora de sua mente, esquecendo se de que os filósofos cogitaram durante séculos se a montanha é real ou uma ilusão produzida pela mente do homem.

Os fenômenos paranormais parecem ser uma função da mente inconsciente. Tudo indica que as experiências paranormais podem ser utilizadas psicanaliticamente, como os sonhos, para esclarecer a entender os conflitos a angustias íntimas do indivíduo. Definir se uma determinada experiência é paranormal ou não, é uma questão secundária. A melhor atitude é considerar que pode existir uma combinação de elementos dentro da experiência e aprofundar o conhecimento sobre o que realmente aconteceu, até que se possa fazer uma avaliação mais precisa.

As reações patológicas às experiências paranormais são mais frequentemente psiconeuróticas – ansiedade, somatização e depressão do que psicóticas, com distorções da realidade.

O caso que relataremos ilustra vários tipos de reações.

imageU9HUm jovem casal, Ted e Karen, viveu uma experiência comumente chamada de poltergeist (tecnicamente chamada de psicocinese espontânea recorrente). No início, eles esconderam dos pais e dos amigos o que estava ocorrendo, por acharem que seriam olhados com desconfiança. Em pouco tempo, as relações dos dois com as outras pessoas deterioraram-se – eles se tornaram estranhos, distantes, dando a impressão de que não estavam gostando da companhia de ninguém. E, no entanto, eles não se sentiam à vontade em nenhum encontro ou conversa apenas porque não podiam falar daquilo que ocupava sua vida no momento. À medida que os fenômenos de poltergeist continuaram ocorrendo, Karen principalmente foi tomada por medos e começou a sofrer problemas físicos e psicológicos.

Finalmente, eles resolveram recorrer à Sociedade de Pesquisas Psíquicas do Sul da Califórnia. Os primeiros contatos com os pesquisadores mostraram que tanto Ted quanto Karen eram pessoas perfeitamente racionais, agradáveis, de emoções e comportamento perfeitamente equilibrados. Ou seja, não apresentavam qualquer sinal de perturbação mental a nível elementar, e seria extremamente improvável que sua experiência fosse fruto de alucinação.

Os dois foram submetidos à hipnose, que serviu para confirmar a veracidade das informações, obter dados adicionais e diminuir a ansiedade. O episódio mais impressionante, relatado por Ted, foi no dia em que ele olhou para a parte interna de seus braços a verificou que estava inteiramente riscada por traços feitos com uma caneta esferográfica. Ted correu para mostrar a Karen, que suspendeu a manga da sua própria camisa e viu que os seus braços tinham traços iguais. Ted contou ainda que tentou reproduzir os riscos artificialmente a não conseguiu.

Seria o morto a causa de tudo?

 Ao longo das pesquisas com os dois, um sensitivo disse que muitos anos antes alguém morrera em circunstâncias especiais na casa onde eles estavam morando. Karen ficou muito abalada com essa revelação e ela própria se considerou perto da histeria durante um mês em que as manifestações durante de poltergeist foram mais intensas. Ela estava deprimida, nervosa, tinha insônias frequentes e sofria muita dor de cabeça. Numa noite em que estava se sentindo bem e tranquila, ela entrou em seu quarto e imediatamente perdeu a consciência. Ted não ouviu nada, mas entrou no quarto logo depois e colocou-a na cama; Karen abriu os olhos. Ela contou que não sentira nada especial, apenas “apagara”.

Nesse dia, eles chamaram um sensitivo do instituto, que foi ate a casa deles a examinou Karen. Segundo ele, um espírito estava querendo possuí-la. O sensitivo procedeu então a um exorcismo, após o qual Karen sentiu-se “outra pessoa”. Depois ela comentaria que o efeito do exorcismo deve ter sido psicológico: ela se sentiu tão bem por alguém estar tentando tomar alguma providência contra aqueles acontecimentos estranhos que o exorcismo funcionou. Mas ela reconheceu não ter nenhuma certeza de se acreditava ou não nessas medidas protetoras.

Depois disso, Karen entrou numa fase calma. Ela dizia ter uma “relação” com o espírito que habitava sua casa; que podia falar com ele, se quisesse, mas preferia ignorá-lo, para que ele não se tornasse muito ativo. Dizia ainda que aquele era um espírito amigável, apesar dos sustos que deu, embora soubesse que outros poderiam causar graves problemas. Ted, ao contrário, passou a se preocupar com Karen e, embora curioso acerca do fenômeno, ele não queria tentar provocá-lo de novo. 

imageDTLPatrícia viveu uma experiência paranormal, tendo uma reação um pouco diferente da de Karen. Ela não sofreu consequências físicas, mas apenas emocionais, que a deixaram mal durante um longo tempo. Patrícia tinha quarenta anos e era gerente geral de um grande armazém, há muito tempo. Embora jamais tivesse buscado orientação a respeito, Patrícia era capaz de entrar em transe e “ver” coisas a respeito da vida das pessoas que ninguém sabia, às vezes, nem a própria pessoa. 

Umas amigas, sabendo disso, um dia apresentaram a Patrícia uma jovem mexicana que estava muito perturbada emocionalmente, precisando de ajuda. Patrícia concordou em tentar ajudar. Entrou em transe e descreveu o que viu:

“É um dia muito quente. Dois homens param o carro num lugar deserto, próximo de um barracão. Saltam do carro e puxam para fora um rapaz de uns dezesseis anos, com as mãos amarradas. Os homens estão cheios de ódio. O rapaz está aterrorizado, e eu sinto esse medo como se fosse meu. Dentro do barracão, eles penduram uma corda na viga do teto e, com ela, fazem uma forca na qual enforcam o rapaz. Os homens saem”.

Patrícia explicou que o assassinato do menino era uma vingança. Ela teve, depois, grande dificuldade para sair do transe. E, em seu estado normal, experimentou ainda, por bastante tempo, as emoções que sentira durante o transe. As amigas lhe disseram, então, que um irmão da jovem mexicana, exatamente de dezesseis anos, havia sido encontrado morto, enforcado, num barracão de um lugar deserto, e a polícia definira o caso como suicídio. A causa das perturbações emocionais da jovem era o fato de ela não aceitar intimamente que o jovem se suicidara e sentir um impulso contínuo impelindo-a a descobrir o que ocorrera. Isso fazia com que ela sofresse de uma forma perturbadora.

Se a jovem ficou aliviada após o transe de Patrícia, o mesmo não aconteceu com a própria Patrícia. Ela ficara não só depauperada com o que sentira durante o transe, como também impressionada com sua capacidade de clarividência. Apavorada, jurou que jamais repetiria essa experiência. A partir daí tornou-se uma pessoa deprimida e desinteressada e acabou não tendo ânimo para nada, nem para trabalhar.

Encaminhada a parapsicólogos, para tratamento, depois de quatro anos Patrícia estava inteiramente recuperada e reabilitada a utilizar sua capacidade especial.

Os casos apresentados são uma pequena amostra das várias reações emocionais possíveis diante de experiências paranormais, e do sofrimento que a ignorância desse assunto pode causar às pessoas. Há uma grande necessidade de pesquisas e descobertas; há uma grande necessidade de novos conhecimentos. Felizmente, já foram feitos alguns avanços notáveis. A aceitação cada vez maior da realidade dos fenômenos parapsicológicos é um fator muito promissor. E, à medida que entidades científicas oficiais reconhecem a parapsicologia como ciência – como foi o caso da Sociedade Americana para o Progresso da Ciência -, fica mais fácil para o público também aceitar a paranormalidade a reagir normalmente diante dela.

O mais importante de tudo é ter certeza de que toda experiência humana obedece a leis naturais que, mais dia, menos dia, serão compreendidas. Enquanto não são, não há por que negar a experiência.

 

image5CEFreda Morris 

formou-se em psicologia na Universidade de Oklahoma em 1958. 
Durante sua prática clínica, seu interesse foi despertado pelos pacientes 
emocionalmente perturbados cujos problemas haviam começado a partir de uma experiência paranormal.
A partir daí, ela dedicou sua carreira ao estudo dos fenômenos psi.
fredamorris@spiritnet.com
.filipeta 

pm23