A Grande Rainha da mitologia celta.

imagePMQLa Morrighan é uma das figuras mais importantes da mitologia celta. Embora retratada de diferentes maneiras e nomes, ela é, primeiramente, a força que fertiliza o caos, dando início à Criação. É a grande rainha, e costuma ser representada na companhia de suas irmãs. Diz-se que é uma das filhas de Ernmas, uma deidade cujo nome significa homicídio. 

Os celtas, como tantas outras culturas pré-cristãs, consideravam equivalentes e complementares os aspectos masculino e feminino dos deuses. Sendo assim, La Morrighan se une primeiramente com Lugh e posteriormente com Dagda, às vésperas de uma batalha, num fascinante ritual mágico. Aqui, vemos a intensa sexualidade da deusa ligando entre si dois mundos: este e o Outro Mundo, para onde irão os valorosos combatentes.  

Dagda

Em seu mito da Criação, Deus opera através de La Morrighan para gerar o mundo manifesto como o conhecemos. Visto assim, ela lhe serve de útero, dando forma e moldando pensamento de Deus. Na Bíblia está escrito que, “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. La Morrighan é o agente de Deus para que céus e terra fossem criados. 

A estória que se segue, tanto para os celtas como para os cristãos, é bastante similar e pode ser melhor compreendida através dos conceitos iniciais da cabala, para quem deseja aprofundar-se. 

La Morrighan é a própria Mãe Terra ou Mãe Natureza e sua primeira incumbência, uma vez fertilizada, é dar continuidade à Criação no plano correspondente a este planeta. A primeira coisa que ela se encarrega é criar os quatro elementos, Ar, Água, Fogo e Terra. Na sequência, segundo a lenda, ela cria tudo o que é encontrado na natureza, finalizando com a criação dos seres e do homem. Essa estória é contada a Merlin por Taliesin, quando este perguntou a respeito. 

É o mito estabelece vários planos de manifestação, onde residem diferentes seres. Assim, La Morrighan também assume diferentes nomes e formas para cada um desses planos. É quando nos deparamos com Morgan le Fay. 
Morgan le Fay, em sua primeira expressão, é etérea e inacessível. Mas também sábia e justa.  

Morgan Le Fay

Da mesma maneira que a trindade feminina cristã (as Três Marias), ela também é Nimuë e Dama do Lago. 

Como Nimuë, ela se torna amante de Merlin, roubando seus maiores segredos e magias. Ainda que espiritualizada, Nimuë é a expressão feminina, sensual e instintiva de La Morrighan. E, embora sua magia não possa ser considerada “negra”, opunha-se àquela de Merlin, expressão da sabedoria e do conhecimento ancestral. 

E, como Dama do Lago, retratada como uma anciã, é responsável por levar em seu barco os heróis que morreram em combate para o “Outro Mundo”, o reino mágico dos celtas, onde vivem seres interdimensionais ou com poderes especiais. Mas também é ela que desafia e protege Lancelot em sua busca do Graal. A sabedoria da anciã é o tempo. 

Cronologicamente, esta tríplice representação de La Morrighan é anterior ao período arthuriano e corresponde aos primeiros textos encontrados sobre Merlin e Taliesin.  Podem ser localizados em uma época próxima ao início dos tempos. Entretanto, é preciso ter em mente que essa “Deusa Tríplice” é etérea e só possui existência espiritual.  


Taliesin

Sua contraparte material ou física surge com as nove irmãs gêmeas, criadas para operar como elo de ligação entre o reino dos homens e o divino. Correspondem às musas da mitologia grega.   

Miticamente, deriva diretamente da tríplice manifestação da Deusa, agora, dividida em nove (3 x 3). Morrighan é uma espécie de líder entre elas. Vivendo em uma ilha mágica impossível de ser distinguida pelos olhos comuns, possuíam uma ética própria e o conhecimento da magia natural. 
A primeira menção a Morrighan ocorre ainda nos textos pré-arturianos, quando cuida das feridas do Rei Bladur. 

Embora seja a Dama do Lago que traga como Arthur ferido até a mágica Ilha das Maçãs, é Morrighan quem trata de restabelecer, através de sua magia e conhecimentos terapêuticos, das feridas resultantes do combate entre ele e seu próprio filho. 

Os mitos celtas são uma coleção de contos e lendas da Bretanha, País de Gales e Irlanda, transmitidos oralmente e reunidos pela primeira vez por Sir Geoffrey of Monmouth, no século XII. As pesquisas de Jean Markale reuniram às lendas existentes aquelas das Ilhas do Canal. Em todas elas, os personagens principais são Arthur, Merlin e outros reis ou cavaleiros que perseguiram o Graal.  

Merlin

Isso se dá pelo fato de estarmos tratando de uma época em que o cristianismo buscava ocupar o espaço do paganismo. E o cristianismo é notadamente masculino. 

No entanto, o que Sir Geoffrey Monmouth nem se deu ao trabalho de encobrir é a importância do princípio feminino em toda a Criação e na estória dos Reis da Bretanha. 

O papel de La Morrighan é muito maior que aquele liricamente apresentado na série “As Brumas de Avalon”, de Marion Zimmler Bradley. Morrighan é o princípio feminino curador que possibilita que os reis e cavaleiros de bom coração permaneçam no caminho que os levará ao Graal, através do amor divino.  

Dama do Lago

Como Dama do Lago, propõe o desafio da vida: a morte para a vida eterna para aqueles que lutaram por ela (a vida). Como Nimuë, instiga os instintos quando achamos que temos algum poder mágico que nos faz diferentes dos outros. 

E por fim, como La Morrighan, nos reconduz à unidade do Pai, do Deus Criador, como verdadeira Mãe que é.  

Henrique G. Wiederspahn
hgwiederspahn@terra.com.br
Oficial de Náutica da Marinha Mercante
Atua como astrólogo há mais de 20 anos
É professor na Escola Regulus
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