Elsie Dubugras
(São Paulo, 2 de março 1904 –  São Paulo, 2 de março de 2006)

imageEBNSuperar os cem anos de idade é quase uma ficção em nosso pais.Conseguir essa façanha e trabalhar até o fim, dia após dia, na quase sempre difícil profissão de jornalista, é uma proeza para constar de qualquer livro de recordes. 

Pois este foi, até quatro semanas antes da sua morte, o cotidiano de Elsie Dubugras, editora especial da Revista Planeta, onde atuou durante 33 anos.

Nascida em São Paulo, no dia 2 de março de 1904, filha do antropólogo dinamarquês Wilhelm Augustus Gericke e da escocesa Mary Ada, a sua vida foi marcada por viagens   tanto exteriores como interiores. A primeira delas foi para a Inglaterra, quando Elsie não tinha ainda completado um ano. Só e voltou para o Brasil 20 anos de  e pois. Trouxe consigo as marcas da s boa educação, determinação, fir meza de caráter, curiosidade científica e pontualidade típicas dos bons britânicos. Elas lhe foram muito úteis ao longo de toda a sua longa vida.
 

 No Brasil, Elsie se casou com Victor Dubugras Filho, cujo pai era o grande arquiteto Victor Dubugras.

Teve dois filhos, Robert e Ronald, muitos netos e incontáveis bisnetos. Amava a família na mesma medida em que amava o mundo e a aventura da descoberta.

 Elsie chegou a PLANETA no início da década de 1970, quando já beirava os 70 anos de idade, e após passar por uma série de atividades tradutora, secretária de altos executivos, relações públicas. Viúva no fim da década de 1950, ela foi contratada pela Pari American para cuidar de casos de inadimplência no pagamento de passagens aéreas. “Virei uma espécie de detetive, uma Miss Marple (a célebre personagem de Agatha Christie) das passagens aéreas”, contava. “Dei a volta ao mundo pelo menos quatro vezes com esse trabalho, e raras vezes falhei em localizar os procurados. Mas perdi a conta das vezes em que fui ameaçada de morte pelas máfias das passagens fraudadas.”  

 Elsie aposentou-se da Pari American em 1971. “Fiquei três dias sem trabalhar, tempo suficiente para perceber que o ócio fazia mal à saúde.” Passou a escrever artigos sobre temas relacionados ao espiritualismo, espiritismo e parapsicologia   suas paixões. Um dos temas que lhe interessavam,as gravações de vozes de espíritos, serviu lhe como passaporte para a redação de PLANETA, em 1933. A revista surgira no Brasil um ano antes, dirigida por Ignácio de Loyola Brandão. Elsie tornou se uma colaboradora regular.

No final de 1936, já sob a direção de Luis Pellegrini, Elsie foi contratada como redatora fixa. É o próprio Pellegrini quem conta como isso aconteceu: ‘Quando Loyola me passou o bastão de comando de PLANETA, apresentou-me alguns dos colaboradores que atuavam na revista. Entre eles estava Elsie. Numa tarde, ela foi me visitar. Sentou se à minha frente e, enquanto falávamos, notei que examinava minha sala com o canto dos olhos. A certo ponto, disse: ‘Luis, sua sala está uma bagunça. Se você quiser, venho aqui todos os dias e ponho ordem em tudo isso. Tenho muita experiência em organização de arquivos e posso lhe ajudar. E, de qualquer forma, prefiro fazer isso do que ficar em casa olhando para as paredes.’ 

No dia seguinte, às 9 da manhã em ponto, Elsie chegou. Deu início a uma rotina de trabalho que só iria terminar com a sua morte. “Durante dois meses ela se movia na minha sala como uma sombra, eu até esquecia da sua presença”, conta Pellegrini. “Findo esse período, ela colocou em cima da minha mesa três fichários de madeira repletos de fichas de cartão organizadas em abecedários. E ela disse: ‘Tudo que existe nesta sala está classificado nessas caixas, por assunto, por autor, por data e procedência. É só procurar.’ Que fazer, depois dessa demonstração de eficiência? Eu a contratei como ‘senhora faz tudo’, redatora, repórter, secretária, arquivista, tradutora, Só não imaginei, naquele instante, que ela estenderia suas funções também para grande amiga e conselheira… Ela se incorporou oficialmente à redação de PLANETA e daqui só saiu, como ela mesmo proclamara, no dia da sua morte.”

Durante suas três décadas de PLANETA, Elsie marcou sua presença com artigos especiais sobre espiritualismo, religiões comparadas, espiritualismo. Criou na revista a seção “Fronteiras do Desconhecido”, que fez sucesso durante mais de dez anos.
Elsie divulgou no Brasil e no Exterior alguns dos nomes mais relevantes da fenomenologia e do estudo do paranormal no Brasil, entre eles o engenheiro e pesquisador Hemani Guimarães Andrade e o médium e psicólogo Luiz Antônio Gasparetto. Ficou amiga de outros grandes médiuns como Chico Xavier, Edson Queiroz, João Pio e Almeida Prado.

Elsie se tornou um mito da imprensa brasileira. 

Tudo isso sem abandonar sua outra vocação, a pintura e o desenho. Elsie era ótima aquarelista. Reunidas no livro São Paulo no tempo do garoa, suas aquarelas sobre São Paulo antigo são antológicas e hoje fazem parte do acervo do Banco do Estado de São Paulo.

Pouco a pouco, Elsie se tornou um mito da imprensa brasileira. Era constantemente procurada para dar entrevistas. Há dois anos, no período das comemorações do seu centenário, sua rotina de vida incluía visitas diárias a estúdios de televisão, rádios, jamais e revistas para dar entrevistas. Todos queriam falar do “fenômeno Elsie”, a mais idosa jornalista brasileira ainda atuante no mercado.
Seus companheiros de redação e demais amigos, no entanto, preferem recordar a Elsie que existia para além da sua figura de celebridade. Sua inteligência, sua capacidade de se reno
var constantemente sua modernidade, sua curiosidade insaciável em relação a todos os fenômenos da vida e do mundo. E, sobretudo, sua generosidade. Sua mesa, na redação de PLANETA, era uma espécie de confessionário para boa parte das muitas centenas de funcionários da Editora Três que vinham lhe pedir ajuda e conselhos. Em certos dias, formava se uma fila, e Elsie era capaz de passar horas até atender a todos.

Poucos meses antes de morrer, ela pediu a pessoas da redação que a levassem para visitar um terreiro no município de Embu, perto de São Paulo, o Templo Guaracy de Umbanda. Eclética, ela se sentia à vontade em qualquer templo, de qualquer religião, pois, como ela dizia, “Deus está em toda parte e fala muitas línguas”. A visita foi um sucesso estrondoso. Ao reconhecê-la na assistência, Carlos Buby, babalorixá do Templo Guaracy, foi buscá la pelas mãos e a fez sentar na sua própria poltrona de pai de santo. Lá, como uma rainha, ela recebeu os cumprimentos de todos os caboclos e pretos velhos, de todos os médiuns da casa. Solicitada a dar a todos um conselho, ela repetiu o refrão que norteou toda a sua vida, do princípio ao fim: “Trabalho, trabalho, trabalho!” Carlos Buby, então, apontou para Elsie e disse: “Olhem bem. Vocês estão vendo algo muito raro e precioso. Dona Elsie é uma entidade encarnada.” Esta foi, talvez, a definição mais emblemática dessa personagem, para quem “100 anos não significaram nada”. Para ela, foi apenas um período no geral sofrido, no qual tentou resolver os problemas que lhe afetavam “da melhor maneira possível, sem prejudicar pessoa alguma e procurando sempre fazer o bem sem olhar a quem”. 
 

Fonte: Revista Planeta 403
Abril de 2006
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Os Salvadores

por Elsie Dubugras

hqdefault“Segundo a antropologia, sendo o homem primitivo um ser selvagem, era natural que ele divinizasse o Sol, a fonte da luz e da vida. Aos poucos concluiu que esse ser superior teria fecundado a Terra virgem com seu calor e com ajuda das chuvas (sêmen?), e que desta união surgiria do Deus da Vegetação, gradualmente transformado em Deus-homem.

Com o pasar dos séculos, essa crença se solidificou e ganhou várias versões na mitologia. Um estudo comparado de mitologias e religiões mostra-nos que 16 Salvadores vieram resgatar os pecados do mundo. T

Todos nasceram de virgens, filhos de deuses, e foram de alguma forma sacrificados por seus contemporâneos. Foram eles as “luzes, dos homens.

Os nomes foram retirados do livro The World’s Sixteen Crucified Saviours de Robert Graves e de Rock of Truth de J.A, Finlay : Thulis, Crite, Attis, Thammuz, Hesus, Indra, Bali, Lao, Alcestos, Sakia, Quetzalcoatl, Wittoba, Krishna, Prometeu, Quiriniu e Mitra. A enciclopédia britânica fornece dados sobre alguns desses salvadores :

Quirinus – por vezes confundido com Rômulo, era um deus quase tão importante quanto Júpiter e com qualidades sememelhantes ao deus Marte. Era cultuado no Quirinal, a sede das Sabinas.

Krishna – Deus Hindu conhecido como o Grande Salvador.

Mitra – Deus da Luz, Protetor dos Retos, Guardião dos Juramentos, o Inimigo do Mal e da Escuridão, foi considerado o mediador entre os homens e o Ser Superior. Mitra também era considerado o Criador, o Protetor da Vida.

Attis – um belo moço nascido da filha do Rio Sangarius, ressucitou depois de sua morte.

Indra – uma das entidades mais importantes do panteão védico, é o Deus das Chuvas.

Quetzalcoatl – A Serpente Emplumada do México.

Prometeu – deus que trouxe o fogo à Terra.

Para simbolizar o espírito das trevas, os católicos adotaram um deus pagão do culto da fertilidade : Pã, um ser em forma de bode, com chifres e rabo. Só, que no culto da fertilidade, Pã era uma entidade benigna.

A cruz é um símbolo muito antigo que tem sua origem na adoração do fogo produzido, esfregando-se dois paus. No templo de Luxor (Egito) um quadro esculpido da Anunciação mostra o Espírito Santo egípcio apresentando uma cruz à Virgem. No quadro seguinte, vê-se a Virgem dando a luz a uma criança. Ela é cercada de figuras em posição de oração.

Na cruz foram sacrificados os 16 salvadores que morreram pelos pecados dos homens. Segundo a crença dos povos daquelas épocas, a salvação e a imortalidade eram conseguidas pelo sofrimento e a morte de animais ou de um deus-homem. No entanto, o crucifixo, como símbolo do cristianismo, só foi idealizado no ano de 680 d.C. Antes desta data os cristãos usavam um símbolo tipicamente pagão : o cordeiro dos adoradores de Mitra.

Quanto aos rituais, a água benta era empregada pelos hindus, egípcios, gregos e romanos. O próprio batismo é uma cerimônia antiga, sendo que o infantil é de origem romana. A eucaristia era um ritual pagão celebrado logo após as colheitas, em agradecimento a Ceres e a Baco. As palavras de agradecimento eram mais os menos as seguintes : Esta é a carne da deusa e este é o sangue de nosso deus. Em tempos mais remotos, usava-se sacrificar um animal, pois acreditava-se que o sofrimento da vítima redimia os homens. “

Muitas virgens mães de deuses eram conhecidas como Maria, Miriam, mariana, Mara, Maia. O poeta romano Ovídio (43 aC. – 18 dC) cita outro deus salvador : Esculápio, que também nasceu de uma virgem e cuja vida é semelhante à de Jesus Cristo.

Também a vida do deus Bel, dos babilônios, em muito se assemelha, Bel é aprisionado, julgado e chicoteado e levado ao monte com dois criminosos, um dos quais é perdoado e solto. Após chegar ao monte, Bel desaparece e a cidade sofre um tumulto. As vestes de Bel são levadas embora e uma mulher, em prantos procura-o na entrada do lugar onde ele fora sepultado. Bel, por fim ressuscita.

0,,14702605,00Diversas divindades dos tempos antigos que tinham um deus como pai e uma virgem como mãe tiveram sua vinda anunciada astrológicamente, isto é segundo a posição dos astros no céu. Quando eles nasciam, ouvia-se uma musica celestial e um coro de vozes angelicais avisando que a benção recairia sobre a Terra. Na ocasião dos nascimento de Buda, o coro celestial declarou que ele viera para o benefício dos homens.

Por outro lado, em diversos casos os tiranos que governaram os países quando do nascimento dos pequenos deuses tentaram mata-los, obrigando os pais a fugir para outros lugares a fim de salvar-lhes a vida.

A história de Krishna tem 346 incidentes semelhantes aos encontrados nos Evangelhos. Algumas imagens mostram um homem crucificado com uma tira ao redor da cabeça, que poderia representar uma coroa de espinhos. O mesmo ocorre em Mitra, o deus persa nascido 400 anos antes de Cristo; Osíris, o deus dos egípcios, e as lendas envolvendo Pitágoras, prometeu, Apolônio e outros iluminados. As igrejas católicas e a de outras seitas cristãs ainda hoje tem suas fachadas voltadas para o Oriente, onde nasce o Sol. “

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