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por: Zelinda Orlandi Hypolito

  Algo comum de se ouvir é: “Fiz tudo por ele (ela/eles/elas), nunca pedi nada em troca, e me diga: o que eu ganho agora???  Um pé???…”

    Em outros mundos eu não sei… mas neste mundo, todo e qualquer relacionamento se baseia numa simples tabela de dupla entrada.

      Todos nós, sempre damos e recebemos algo em troca, mesmo que não tenhamos conhecimento consciente do fato.

      Quase a totalidade de nós,  humanos, nos sentimos lesados em termos de relacio-namento, sempre acreditamos que fazemos mais do que o outro. 
 

 

         Na maior parte das vezes não é verdade, temos uma percepção distorcida e parcial  do fato, mas algumas vezes, realmente, temos que admitir que uma das partes se “vira do avesso” para tornar a vida do outro o melhor possível e o outro não se importa, parecendo nem perceber, ou pior ainda, se aborrecendo com a atenção e o carinho dispensado. 

      Então vem a pergunta: “Porque essa pessoa é tão boba que faz tudo pelo outro e não tem nenhum retorno? Que absurdo!!!”
 

 

      Aí é que nos enganamos, certamente ela faz tudo esperando um retorno, ainda que não explícito ou até mesmo inconsciente.

       Na área consciente, se não houvesse a espera do retorno, ela não iria reclamar, se aborrecer ou “sofrer”, aliás ela nem perceberia. Simplesmente seguiria adiante e o retorno dela, seria a alegria ou a tranqüilidade da certeza de ter cumprido o que ela acreditava ser justo e correto (mesmo que essa percepção não seja cor-respondente à nossa). Por alguma razão, mesmo que ela não saiba ou não possa explicar, foi importante fazer o que fez pelo outro.
 

 

       Na área inconsciente, certamente o “provedor” está recebendo algo em troca e o ato de “dar sem retorno” está suprindo alguma necessidade interior e às vezes inconfessável ou imperceptível como por exemplo, a “novelesca” sensação de sofrer por amor, de amar sem ser amado, pois assim, através da pena ou até da admiração por seu comportamento desprendido ou sua bondade, ela consiga a atenção dos outros. O nosso inconsciente sempre dá um jeito de suprir nossas carências, nem que seja da pior maneira possível.

   Algumas vezes, vemos pessoas que “fazem, fazem e fazem” mil coisas por alguém que não lhe dá bola e de repente ela, de uma hora para a outra, para e da um basta. Será que ela aprendeu a não ser boba? Não, apenas ela não precisa mais usar esse esquema para suprir sua necessidade. 
 

 

Ou ela deslocou seu problema e encontrou uma outra maneira de resolvê-lo ou,  numa possibilidade melhor que a anterior, melhorou sua auto-estima, percebeu seu jogo, modificou sua atitude e já suporta e se permite ter um relacionamento com uma tabela de dupla entrada mais equilibrada e eqüitativa.

    De qualquer modo, para não nos tornarmos aquela pessoa “chata” que se parece a “mater dolorosa” ou prepotente, de quem todos fogem, uma coisa que devemos sempre ter atenção é como está acontecendo esta tabela de dupla entrada em nossas vidas.
 

 

     Sempre que houver um relacionamento, seja com seres humanos (família, parentes, amigos, afetos, empregados, patrão, etc.), com animais e até com objetos, vamos  analisar racionalmente e conscientemente se o “dar e receber” é equilibrado e eqüitativo. Se for, maravilha, não estamos fazendo nenhum jogo. Se não for, se o que damos é menos do que recebemos ou vice versa, sejamos inteligentes e adultos para observar e tentar compreender o que, na verdade, estamos recebendo em troca ou o que o outro está recebendo, para analisar se vale a pena continuar com essa atitude. 

Não se esqueça que, algumas vezes, o barato sai caro e quando pensamos estar levando vantagem, estamos tomando um prejuízo imenso. Outras vezes, achamos que estamos sendo lindos e maravilhosos com o outro e, por trás dessa atitude, se esconde um comportamento de raiva, mágoa ou medo contra ele, que só irá nos amarrar ou prejudicar num futuro próximo.Portanto, sempre que você perceber, em sua vida, algum relacionamento que pareça ser desequilibrado, observe, perceba, raciocine sobre ele e veja qual é a troca real e se vale a pena continuar ou buscar meios internos e externos para modificar essa condição.

    Lembrando meu querido mestre Richard Bach: “Cada pessoa, todos os fatos de sua vida, ali estão porque você os pôs ali. O que fazer com eles, cabe a você resolver…”