imageTHNAsdrubaldo era um lesminhoco que vivia sua vida a cavar buracos, túneis, fendas e afins. Era  alguém precisar de uma nova passagem subterrânea e lá ia ele, todo feliz e garboso, desempenhar seus talentos “perfuradorísticos”. Muito meticuloso, extremamente persistente e perfeccionista não havia solo, por mais duro e impermeável que fosse, que resistisse à sua penetrante cabeça em forma de broca. 

Não parava nunca de trabalhar. Mesmo quando voltava para sua toca, depois de passar muitas horas em sua exaustiva labuta, sempre achava algum melhoramento para fazer. Ou   era   a construção de um novo cômodo para abrigar melhor a família, ou o alargamento de uma passagem que considerasse estreita, ou sei lá que outra tarefa arranjasse. O certo é que Dona Florisnilda, uma lesminhoca gorduchinha, que por coincidência  proposital desta história era sua esposa, vivia a reclamar que ele estava sempre com a cabeça enterrada no trabalho e que nunca tinha tempo para família.

“Veja só a nossa vizinha, a Madame Bricolix.” – reclamava – “Ela sim que tem um vidão. Todo fim de tarde seu marido a leva, junto com seus lesminhoquinhos, para passear pelas terras fofas dos bulbos perfumados ou para tomar chá de fungo verde com os amigos. Eu, se dependesse de você, passaria o resto de meus dias confinada aqui, neste labirinto infernal que você cavou e que só me dá cada vez mais trabalho e exaustão.” 

Era verdade, ele  tornara-se um viciado em trabalho. Só pensava naquilo.

Mas um dia a vida de Asdrubaldo mudou radicalmente. Madame Bricolix convidara a todos para um sarau dançante com guloseimas finas em sua toca de verão. Dona Florisnilda foi acompanhada apenas por seus lesminhocos já que, nesse dia, ele resolveu abrir um túnel próximo de um lugar que chamavam a Cova dos Piratas.

Assim, estava Asdrubaldo envolvido em seu projeto, quando de repente  a terra ficou bem mais fofa, permitindo que ele aumentasse, de uma forma imprudente, a sua velocidade de aprofundamento. Foi por isto que ele não viu um cofre de ferro que lá estava enterrado, batendo violentamente com sua cabeça em sua carcaça. 

Quando deu por si viu que estava em outra dimensão. Uma névoa vermelha e mal cheirosa o envolvia, cadeias de ferro prendiam o seu corpo impedindo seus movimentos, um frio cortante doia-lhe na alma. Ao seu redor milhares de seres escavavam febrilmente. Foi quando, diante dele, surgiu Nadinopopo, o grande deus lesminhoco da vida e da morte, estendendo o seu dedo descarnado em sua direção e dizendo: “Você não viveu a vida, portanto não terá paz na morte, vai ficar aqui, vendo os outros trabalhar, porém, sem poder se mover, por todo o sempre…”

Com um zumbido nos ouvidos e com uma tremenda dor de cabeça ele abriu vagarosamente os olhos e esclamou aliviado –  “Ufa!!!…” – Fora só um sonho.

Asdrubaldo abandonou o buraco, limpou a sujeira, perfumou-se todo e foi correndo para o sarau dos Bricolix. Ainda dava tempo de aproveitar o fim da festa.

Era agora um lesminhoco iluminado.

 

 

image89I[1]Arsenio Hypollito Junior 
Engenheiro Civil Fundador do Imagick 
Criador do sistema Imagick de Magia 
M.I. da Irmandade das Estrelas
filipeta
livro 2Um romance iniciático que mostra como uma pessoa
pode mudar de carente de milagres num fazedor de milagres.