A crença de que a Terra é uma mãe sagrada acompanha os homens desde tempos remotos. Compreendendo as manifestações de suas forças, eles passaram a reverenciar os locais habitados por entidades que os auxiliavam a invocar o espírito da fertilidade.
Por Elsie Dubugras
Para os homens primitivos, a Terra era sagrada — uma mãe que nutrida pelas estrelas, incubava em seu ventre tudo que existisse.
Ela era governada pelo Espírito da Terra, uma entidade espiritual todo-poderosa que manifestava sua força criadora através dos fenômenos da natureza, pelo estabelecimento das diferentes estações, pela vida e a morte dos seres humanos e animais, pelo crescimento dos vegetais e pelos ciclos da fertilidade.
O tempo era cíclico, a criação um processo contínuo e os espíritos onipresentes e eternos. Aos poucos, os nossos ancestrais concluíram que cada função ou atividade estaria sob a jurisdição de uma entidade espiritual especializada naquela área e que era necessário manter um constante contato com estes espíritos/deuses através de rituais e cerimônias mágicas apropriadas. Sendo a mineração, por exemplo, um trabalho perigoso e difícil, era preciso conseguir a proteção e a orientação do deus encarregado daquele setor para que os trabalhadores fossem bem-sucedidos. E essa proteção era alcançada pelo sacerdote/xamã por meio de um ritual adequado.
Acreditava-se, também, que os espíritos viviam nas pedras, rochas, árvores, montanhas, vales, rios, fontes, poços, etc. Os poços eram especialmente venerados não só pela água que produziam, mas pelo espírito que neles habitava. Segundo os arqueólogos, as aldeias e até alguns povoados relativamente grandes foram construídos e reconstruídos ao redor de certos poços devido à certeza do povo de que a entidade espiritual que lá habitava propiciava uma proteção especial aos que se serviam da sua água.
Sentindo que a Terra seria uma verdadeira mãe, estes povos primitivos consideravam sacrilégio modificar a sua aparência física. Entende-se, então, o protesto de Smohalla, o xamã de uma tribo indígena da América do Norte, que disse: “Vocês me pedem para arar a terra. Pegarei uma faca para rasgar o peito da minha mãe? Se fizer isso, não terei seu seio para descansar. Vocês me mandam cortar o capim e fazer feno; mas como teria a coragem de cortar os cabelos de minha mãe!?”
Algumas imagens de mulheres grávidas — mães, portanto — foram encontradas em cavernas e subterrâneos e pensa-se que isso se deve ao fato de serem aqueles os locais mais apropriados para invocar seu espírito. Outras imagens, correspondendo às quatro estações, também foram encontradas em subterrâneos. São estatuetas de virgens, noivas, matronas e velhas enrugadas, representando a primavera, o verão, o outono e o inverno.
Quando os povos antigos emigravam, a recomendação dos seus sacerdotes era a de que tentassem descobrir os altares e lugares sagrados daqueles que os precederam, para, então, reconsagrá-los segundo os princípios da religião dos novos habitantes.
Também havia a recomendação de que 365 festivais fossem realizados durante o ano, ou seja, um por dia. Assim se estabeleceria uma continuidade de lugares consagrados, associados a um calendário sagrado, que persistiria em toda e qualquer religião adotada naquela localidade. Sabe-se que na Bahia o número de igrejas era igual a 365…
Quando um lugar sagrado era redescoberto, os sacerdotes, de acordo com rituais apropriados, retiravam a entidade espiritual de seu antigo habitat e a removiam para o novo. E, para que as veredas e caminhos fossem santificados, a tribo seguia em procissão do altar primitivo até a nova residência daquele deus.
Os nativos australianos ainda hoje fazem essas procissões com rituais especiais, seguindo os passos dos deuses que criaram aquela paisagem. Param em certos lugares porque, segundo sua crença, uma pedra poderia ser útil à fertilidade feminina, enquanto uma árvore seria o local onde fora criado um animal qualquer ou mesmo uma planta útil ao homem. Cada parada tem seu dia especial e em todas se celebram cerimônias próprias, acompanhadas de canções.
Todos esses caminhos são considerados canais de energia, traçados pelos deuses em eras remotas, explicando-se assim, por que os peregrinos, ainda hoje, percorrem certas vias para chegar aos lugares santos onde procuram alcançar graças e bênçãos dos espíritos que lá habitam. Este costume também mostra a origem das procissões realizadas em dias santos pelas religiões cristãs modernas.
Sabe-se que na Grã-Bretanha existem antigas mansões e centros religiosos interligados por uma rede de trilhas secretas e túneis subterrâneos. Em seu livro Hide or Hang (que pode ser traduzido como ‘Esconda-se ou Seja Enforcado”), a autora assegura que existem provas de que essas passagens subterrâneas indicam a existência de rotas sagradas.
Quanto à lenda que conta de uma dama branca que percorre o caminho de Barnburgh Hall (no condado de Yorkshire) até a capela de Santa Helena, um lugar não muito distante, sabe-se que essa figura — conhecida como Santa Helena, no País de Gales — é a deusa celta dos antigos caminhos, que relembra, assim, o irrequieto Espírito da Terra.
Na Grécia, os caminhos de Hermes, o Protetor dos Viajantes, eram marcados por pilares que conduziam à pedra central do mercado. No condado de Cornwall (Inglaterra), os caminhos sagrados estão assinalados por menires e cruzes.
Os altares encontrados nestes caminhos eram procurados pelos fiéis nas ocasiões em que o deus local — um aspecto particular do Espírito da Terra — estaria presente em sua residência temporária.
O oráculo de Delfos, por exemplo, só funcionava uma vez por ano, o mesmo ocorrendo com outros centros usados pelo Espírito da Terra durante certos dias. Por esse motivo, cada local era eficaz num determinado período, o qual era sempre comemorado com festejos, feiras e reuniões.
Os estágios do ano agrícola ficavam assim acertados e a vida das pessoas se desenrolava segundo um calendário sagrado relacionado aos mitos e costumes locais, com base na experiência do povo quanto aos centros de força e estações preferidos pelo Espírito da Terra.
Essas tradições, originárias de diversos países, mostram que elas procedem de um, conhecimento universal quanto às manifestações do Espírito da Terra e as correntes magnéticas fertilizantes que circulam por certos caminhos em dias estabelecidos pelas posições dos corpos celestes.
Povos estranhos poderiam conquistar e tentar impor suas crenças e seus deuses à população vencida, mas os lugares sagrados e as datas festivas continuavam inalterados. Paulatinamente, os novos deuses se acomodavam aos antigos costumes e os invasores inimigos se ajustavam às tradições do país. Assim, todos se tornavam amigos, com o auxílio da Mãe-Terra.
Fonte: Revista Planeta, número 164, de Maio de 1986
Gostou do que leu? Então temos muito em comum…
.
Para maiores informações sobre o
Imagicklan – A Irmandade das Estrelas