O mais incrível e espetacular dos líderes milenares surgidos no Brasil. Milhares de homens são testemunhas disso.

antonio-conselheiroFamoso no país inteiro, capaz de fazer profecias e ser considerado santo por milhares de pessoas, ele afirmava que um exército viria do mar para derrubar a recém proclamada República do Brasil.

conselheiro3Quando isto acontecesse, os úni­cos poupados seriam os habitantes do seu Território Independente de Canudos, pequeno, mas soberano e livre, em guerra com o mundo exterior.

Quem fazia estas estranhas pro­fecias? Antônio Vicente Mendes Maciel, ou Antônio Conselheiro, nascido em 1835, em Quixeramobim, CE., o mais espetacular líder de movimentos milenares surgido no Brasil. (Os chamados movimen­tos milenares são os que preveem o fim do mundo e a chegada de um período de felicidade para to­dos, num futuro remoto).

ANTONIO-CONSELHEIRO-E-A-GUERRA-CANUDOSDevido à ignorância e à falta de quem suprisse suas necessidades re­ligiosas, os camponeses do século passado levavam muito a sério os caminhantes, monges ou frades lei­gos, que pregavam pelo interior. De vez em quando, um destes prega­dores acabava se tornando um pro­feta do povo.

Foi o que aconteceu, em grandes proporções, com Conselheiro. Filho de lavradores pobres, ele trabalhou como empregado braçal até ser abandonado pela mulher. Então, tornou-se pregador.

Mesmo vivendo de esmolas, Con­selheiro — apelido que ganhou por atuar muito bem em pequenas brigas ou discussões — conseguiu cha­mar a atenção de todos para seus hábitos acéticos e misteriosos.

Vista-parcial-de-Canudos-ao-sul.-Segundo-o-registro-oficial-do-exército-foram-contados-5200-casebres-no-arraial-de-Antônio-Conselheiro-1897-Flávio-de-Barros-Acervo-Museu-da-República.

Canudos – Foto da época da invasão

 

De vilarejo em vilarejo, seguido por outros mendigos, iniciava, re­zando terços e ladainhas, uma longa vida de pregador.

photomania-413c554baa52d292d61c8526332f5f0dSua aparência severa e seu modo estranho de falar trouxeram-lhe, em pouco tempo, a fama de santo.

Enquanto sua vida se resumia a preces e esmolas, sua ação era con­siderada benéfica pelo governo e pela Igreja. E ele não foi moles­tado.

Em cada lugar a que chegava, Maciel acabava convencendo os ri­cos de que fizessem doações, e os pobres de que trabalhassem em fa­vor da Igreja. Por que, então, iriam os padres deixar de tolerá-lo?

E se ele era inofensivo politica­mente, por que a Monarquia iria se preocupar com sua existência?

Mulheres-e-crianças-prisioneiras-Flávio-de-Barros-Acervo-Museu-da-República

 

Mulheres e crianças prisioneiras de Canudos

 

Tudo, onde quer que Conselheiro chegasse, girava em torno de suas profecias, milagres e curas, que o povo comentava credulamente.

Conselheiro_Revista_IlustradaMas, quando foi proclamada a República, seus discursos se torna­ram francamente hostis ao novo re­gime. E, se o fato de ter afirmado que era a encarnação do Espírito Santo não tinha sido motivo sufi­ciente para confiná-lo num asilo, o fato de haver-se tornado um homem de oposição era muito mais peri­goso. E Antônio Vicente Mendes Maciel passou a ser perseguido pela polícia.

“O mundo vai acabar em 1900” – prometia ele, e mesclava suas previsões de uma bem calculada dose de mistério, que impressionava o povo simples que o seguia.

Divisão-de-Artilharia-em-Monte-Santo-e-temidas-matadeiras-canhões-Withworth-32-usados-na-última-expedição-militar-enviada-a-Canudos-1897-Flávio-de-Barros-Acervo-Museu-da-RepúblicaEm conflito aberto com as auto­ridades, Conselheiro seguiu para o Nordeste da Bahia e fez de Canu­dos, vilarejo de apenas 200 habi­tantes, seu quartel-general.

20e7dfc12d3b8cf761a87980cc02061dAli, pregando austeridade e pri­vação, embora deixasse alguns de seus discípulos saquearem as cida­des vizinhas, ele se preparava para o ataque que certamente viria.

A comunidade, entretanto, continuou religiosa e, em 1895, um ca­puchinho teve permissão para en­trar, batizar mais de 100 crianças e fazer alguns casamentos.

Canudos era agora um Estado independente, e os ataques espera­dos faziam parte de um processo que culminaria com o fim do mundo.

E eles não tardaram a acontecer. O estopim foi um pequeno conflito entre os milenares e tropas do go­verno, em Juazeiro.

PIntura-do-Arraial-de-Canudos-e1518266276422As tropas federais sofreram mui­tas baixas e, em seguida, em 1896, um exército de mais de quinhentos soldados atacou Canudos.

Para Conselheiro e seus homens, os ataques não eram surpresa. Aquele e um terceiro, com 1 300 soldados, foram vencidos.

As tropas do governo eram, na verdade, inexperientes: não conhe­ciam a região e, com dificuldade, chegavam às colinas que rodeavam e protegiam o vilarejo. Essa era a grande vantagem estratégica dos se­guidores de Maciel.

guerra-canudosCanudos era, agora, um campo militar: cada homem armado tinha também a certeza de que defendia a justiça, a terra prometida — a única que sobreviveria ao fim do mundo e à destruição da República.

guerra-de-canudos-flavio-de-barros7O governo enviou, então, 5 mil homens contra a pequena cidade. E um canhão, carregado penosa­mente pelos soldados até o alto das colinas, destruiu uma das tones da igreja, que fora construída com tanto amor.

Isto aconteceu em 1897, ano em que Antônio Conselheiro morreu, aparentemente de disenteria.

Sua morte, em vez de desanimar os contestadores, fez com que eles – acreditando que seu líder tivesse ido convocar a assistência dos anjos – lutassem com maior tenacidade. Porém, não há tenacidade que vença 5 mil homens. E, embora ti­vessem infligido aos federais mais de 2 mil baixas, duas semanas de­pois da morte de seu líder, os ho­mens de Canudos acenavam a ban­deira branca.

sobreviventes_foto_sep_500pxDurante a trégua, os rebeldes en­viaram para fora da cidade os ve­lhos, as mulheres e as crianças. Em seguida, retomaram a luta e resisti­ram até que morresse o último homem.

Antônio Maciel, ou Conselheiro, foi, sem dúvida, um fanático. E o comentário mais comum que ainda hoje se faz dele é o de que “a mul­tidão o criou à sua imagem”.

Apesar disto, para os campone­ses do século passado, ele foi a doce esperança de um mundo novo e a personificação de um sonho lon­gínquo.

consEnvolvido com o cristianismo ro­mano e hostilizando a Igreja — o que mostra sua confusão mental — defendendo a Monarquia e atacan­do a República que mal conhecia, Conselheiro surge aos nossos olhos como um típico produto do meio.

Louco, fanático ou visionário, ninguém pode negar que ele perce­beu a necessidade do povo de acre­ditar em algo além de sua vida mi­serável e de culpar alguém por ela.

Sem dúvida, seu magnetismo pes­soal era espantoso, o de um grande líder carismático. Várias décadas e milhares de pessoas foram testemu­nhas disto.

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filipeta

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