As experiências da vida se encaixam em três grandes níveis para todo o ser humano. O primeiro nível é o biológico, que consiste de nossos instintos e apetites, inclusive nossas características genéticas, herdadas. O nível biológico possui influência compulsória sobre nós. Não podemos suprimir completamente nossos apetites e instintos sem causarmos efeitos desastrosos em nosso Eu mental e físico.
Podemos tentar compreender essas funções biológicas, colocando, assim, um freio sobre elas. Podemos nos esforçar por sermos os senhores de nossas próprias forças vitais ao invés de sermos por elas dominados. O homem deve considerar o lado biológico da vida como uma estupenda força dinâmica. Neste particular, trata-se de um maravilhoso, perfeito e misterioso fenômeno cósmico. Mas uma força dinâmica deve ter um objetivo; caso contrário, sua energia será dissipada. Assim, nossa responsabilidade é estabelecer esse ou esses objetivos.
A este respeito podemos nos servir da analogia da chama de vela. As propriedades químicas da vela e do ar mantêm a chama queimando. Mas por que deveria a vela ser acesa? Por que a chama deveria continuar queimando? Somos nós que devemos atribuir uma finalidade à função dessas leis naturais. Acendemos uma vela por razões práticas ou simbólicas. Se, porém, acendêssemos uma vela deixando que se consumisse sem finalidade alguma, isto seria desperdício de material e energia. Igualmente, devemos analisar a natureza biológica de nosso ser e atribuir-lhe um objetivo.
O segundo nível em que nossas experiências da vida se enquadram é o sociológico. Empregamos este termo para denotar nosso relacionamento humano. Não vivemos isolados; somos parte de uma grande família humana. A grande maioria de nós não poderia refugiar-se num lugar de isolamento e nem o desejaríamos. Assim, há certas responsabilidades que nos são impostas para com nosso semelhante. De nossa parte, precisamos e exigimos dele certa reciprocidade.
Influência do Ambiente
Este nível sociológico da vida não é uma compulsão da natureza. Antes, é algo através do qual especialmente nos moldamos. No entanto, a forma ou ordem que damos à sociedade se deve a duas influências primordiais. A primeira é o ambiente. As condições climáticas determinam em grande parte os hábitos e costumes da vida. Por exemplo, os habitantes pré-históricos de montanhas enfrentavam condições muito diferentes das experimentadas pelos nômades do deserto. O clima ameno do Vale do Nilo favoreceu o surgimento de uma civilização muito antes que o clima glacial da Europa o fizesse.
A situação geográfica influencia até mesmo o tipo de governo que o homem estabelece para sua sociedade. Por exemplo, a Grécia é um território recortado de baías e enseadas, frequentemente separadas por altas montanhas. Os mares costeiros são salpicados de ilhas. Assim, as antigas povoações gregas eram mais ou menos isoladas. Nesses ambientes os gregos desenvolveram um espírito de autossuficiência. Isto, por sua vez, inculcou um amor pela liberdade por parte de cada uma dessas comunidades. Daí surgiu a primeira forma de democracia.
O nível sociológico da vida é também um produto dos ideais a que os homens aspiram. Assim como pensam, assim também vivem os homens. Se o ardor de um ideal é suficientemente forte, sobrepujará qualquer oposição. Um ideal que cative a imaginação de um povo cedo ou tarde o leva a uma ação coletiva.
Este idealismo, como motivação, muitas vezes tem sido demonstrado em religião, política e costumes sociais. Não obstante, nem todos os ideais foram benéficos para o nosso nível sociológico de vida.
Um ideal é algo a que o homem aspira, embora nem todo ideal seja necessariamente louvável. Alguns podem ser instigados pelo medo, superstição ou intolerância. Com efeito, muitas perseguições religiosas foram instituídas por um conceito equívoco, por um ideal errôneo.
Em nosso nível sociológico de vida todos nós temos conhecimento de ideais anteriores que foram modificados ou abolidos. Atualmente, temos ideais políticos que dividem o mundo. Cada ideal político conta com milhões de adeptos. Por conseguinte, este nível sociológico de vida que experimentamos é, fundamentalmente, um produto de nossa própria criação.
O terceiro nível de vida que experimentamos é o estético. Trata-se da esfera mais elevada, pois extrai da vida seu valor mais sublime. Este valor da vida, esta qualidade da estética, é a beleza. Que é essa beleza e de que modo a reconhecemos? Será o senso estético herdado? Ou o adquirimos e desenvolvemos?
Toda nobre conquista do ser humano, em qualquer nível de esforço, teve por base um impulso estético. Será que somos nós que conferimos a noção de beleza às coisas que consideramos belas? Ou será que são as coisas que suscitam em nós a consciência da beleza? Estas são questões que têm ocupado a mente dos filósofos há séculos. A ciência moderna, no campo da Psicologia, tem igualmente procurado as respostas.
Parece apropriado tocar brevemente nestas antigas e novas especulações e conclusões. Sócrates disse que o amor serve como mediador entre Deus e o homem. É a aspiração do incompleto àquilo que irá completá-lo. Passo a passo o amor ascende, diz Sócrates. Primeiro há o amor do corpo, o amor físico. A seguir, a beleza de mente e alma. Finalmente, o amor em si mesmo, absoluto, único, simples, eterno.
Platão nos diz que o júbilo da beleza é a imitação da ideia do bem. Está em harmonia com o bem que concebemos. Mais simplesmente, há certos valores que concebemos como bem. A beleza, portanto, é aquilo que representa, ou que está em harmonia com a ideia do bem.
Immanuel Kant disse que a beleza tem um caráter prévio. Em outras palavras, a noção do belo é inata; é uma noção subjacente ao homem. A forma que nos deleita tem uma relação exterior com essa nossa noção interior prévia de beleza. No entanto, este senso interior de beleza é informe. Consequentemente, não pode haver beleza que seja universalmente reconhecida como tal por todos os homens. Dito de modo simples, a plenitude da beleza surge associada a objetos que guardam relação harmônica com nossa sensibilidade pessoal.
George Santayana, um filósofo moderno, disse que a estética é o prazer materializado. Ele quis dizer que é uma forma de empatia.
Em outras palavras, projetamos nossa sensação de prazer a algum objeto.
Abordagem Científica
Falamos brevemente sobre a noção filosófica da estética. Em verdade, as várias outras noções são essencialmente diferentes citações das mesmas idéias ou de idéias semelhantes.
Vamos considerar agora uma concepção científica de estética e beleza. Afirma ela que nos acercamos da arte pelas necessidades, capacidades e habilidades do organismo humano. Mais especificamente, aquilo de que precisamos cria um desejo em nós. O que quer que satisfaça esse desejo possui uma qualidade de beleza para nós. Em outras palavras, tudo o que proporciona prazer é uma forma de beleza, se por beleza entendermos aquilo que é harmonioso. Um som, uma cor ou uma forma podem ser belos. Mesmo um sabor ou uma sensação podem ser belos do ponto de vista daquilo que nos proporciona prazer.
A Psicologia investiga ainda mais a questão, na tentativa de descobrir se a beleza é totalmente subjetiva, ou seja, inerente ao homem, ou parcialmente relacionada às propriedades físicas do objeto que consideramos belo. Num estudo científico, 4556 estudantes universitários foram submetidos a um teste. Suas preferências por cores foram determinadas na seguinte ordem: azul, vermelho, violeta, verde e laranja. Esta ordem de preferência foi determinada entre estudantes de diferentes raças e culturas. Por que isto? A ciência só pôde oferecer uma explicação: de que essa preferência provavelmente estaria relacionada com o organismo humano.
Cores da Natureza
Podemos ainda pressupor que essa preferência se deve ao relacionamento evolutivo do homem com seu ambiente.
As cores preferidas são as que mais comumente se apresentam na natureza que vivenciamos, como o azul do céu, o vermelho e laranja do pôr-do-Sol, e o verde das árvores. Estas são as cores que o homem passou a aceitar como harmoniosas a suas sensações.
Além disso, testes revelaram que pessoas extrovertidas tendem a preferir cores vividas. Isto talvez se deva à capacidade do organismo de se adaptar a diferentes graus de estímulo. A pessoa extrovertida é mais dinâmica fisicamente. Ela possui maior energia física. Consequentemente, as cores mais vividas proporcionam o estímulo a que ela está acostumada.
Contrariamente, o indivíduo introvertido reage a cores mais amenas. As cores mais vividas lhe são excessivamente estimulantes. É bem provável que ele as considere agressivas e mesmo irritantes. As cores produzem diferentes estados de espírito. Condescendentemente, julgamos certas cores calmantes, irritantes, melancólicas, cálidas, alegres, etc.
Nosso próprio subconsciente pode produzir imagens de beleza em nossa mente. Assim, procuramos encontrar na natureza as coisas que correspondem às nossas imagens mentais. Se conseguimos, chamamos essas coisas de belas. Este procedimento é chamado de imaginação hipnagógica (que precede o sono).
A pessoa que tem essa faculdade pode fechar os olhos e vivenciar todo um mundo novo de atividade visual. Acredita-se que muitos artistas devam muito a esse mundo interior de cor e forma que eles vivenciam. Certamente, a beleza da poesia é uma manifestação ao plano objetivo da imagem mental de beleza do poeta.
Podemos, portanto, tomar nosso mundo mais belo. Ou podemos limitá-lo a algumas formas de beleza física. A busca da beleza no nível estético da vida começa em nosso interior, com a percepção e apreensão da harmonia interior e sensibilidade de nosso próprio ser.
Consiste, pois, em cultivarmos as sensações mais sutis que tenhamos. Em meditação, quando sentimos o efeito estimulante dessas sensações mais sutis, procuramos torná-las objetivas. Desejamos manifestá-las no mundo físico, de modo que assumam uma ordem ou uma forma que complemente nossos sentimentos interiores. Se conseguimos isto, o nível estético da vida reveste-se de júbilo.
Um dos filósofos gregos citou um exemplo desta relação da consciência (self) estética com o mundo. Disse ele que um escultor toma um bloco de mármore e “impressiona” sobre o mesmo o ideal de beleza, a forma que ele vê e sente em seu próprio interior. A escultura só se torna bela exteriormente se corresponde à beleza interior do próprio artista.
Fonte: Revista O Rosacruz – Junho de 1983
Para maiores informações sobre o
Imagicklan – A Irmandade das Estrelas