p6Os magos que foram adorar Jesus não eram reis. Não eram apenas três, e sim doze. E quando o encontraram, este já era uma criança bem desenvolvida.

Tudo isso aconteceu, primeiro por uma falsa interpretação do Salmo 72, que deu aos magos o título de reis. Segundo, porque os católicos julgaram o nome de magos a partir dos presentes que eles deram a Jesus: ouro, incenso e mirra. Finalmente, o erro da chegada dos magos se deve a um engano do padre Dionísio Exíguo que, em 530, foi encarregado de estabelecer um calendário que determinasse o início de nossa era.

 

Nossa era teve início com um fenômeno extraordinário, acompanhado de diversos sinais no céu: uma estrela anunciou aos magos do Oriente a vinda do Messias. A descrição que São Mateus faz dessa estrela é simplesmente fantástica: ela aparece e desaparece no Oriente para reaparecer em Jerusalém; contrariando todas as leis da astronomia ela caminha no sentido norte-sul, indo parar sobre uma determinada casa. É como se São Mateus descrevesse um disco voador chamando-o, constantemente, de “estrela”.

Para entender essa “estrela”, temos que conhecer os magos que ela guiou.

Os magos sempre foram associados aos mágicos e confundidos com os feiticeiros; a eles era atribuída uma série de sortilégios e ligações com o demônio. Apesar de São Mateus não especificar, existiam diversas classes de magos, com muitas atribuições e privilégios: interpretar sonhos, ler os astros, adivinhar o futuro e fazer sacrifícios. Dotados de grande dignidade, eles levavam uma vida simples e austera: não comiam carne e reprovavam os casamentos. Devido à prática das virtudes e pelo seu caráter piedoso, os magos eram estimados pelos imperadores e pelo povo.

Sob Nabucodonosor existiu um Rab-Mag, chefe dos magos, que ocupou um lugar de destaque entre seus ministros; sob Sassâni- Das, existiu um governador de província, Mamagha, que também era um chefe de magos. Foi um mago que, interpretando um sonho de Xerxes, determinou a expedição contra a Grécia.

Apesar da grande importância política e religiosa, os magos não eram reis. A tradição que lhes deu esse título é baseada numa falsa interpretação do Salmo 72, que se refere diretamente a Salomão e não ao Messias. Tertuliano acertadamente concluiu que, devido à grande autoridade de alguns deles, no Oriente, os magos eram quase reis.

 

Uma religião que venera os cães e os astros

 

p5A religião dos magos era a mesma do sábio Zoroastro e que se encontra codificado no livro sagrado “Avesta”. Era uma religião quase monoteísta: acreditavam na existência do deus do bem e do deus do mal; condenavam os sacrifícios humanos e dispensavam a presença dos ídolos. O deus supremo era Ormuzd, que tinha sob seu domínio seis Amschaspands, responsáveis pela natureza, e milhares de Izeds, que velavam pelo bom funcionamento dos seres. Ao deus do bem se opunha o deus do mal, Ahriman, que comandava uma legião de devas (demônios).

Essa religião, que dominou medas e persas e influenciou assírios e caldeus, atribuía uma ação benéfica aos astros e aos signos do zodíaco. A constelação do Cão gozava de uma estima particular porque o Avesta venerava os cães com a mesma devoção que dedicava ao homem.

Sendo uma religião que venerava os astros, é natural que os magos fossem grandes astrônomos. Alguns deles passavam suas noites sobre as montanhas, observando os astros. Eles sabiam calcular a trajetória dos planetas e prever eclipses. Outro fator importante na formação dos magos foi a influência que sofreram do judaísmo. Religiosos como eram, foram tocados particularmente pelas profecias messiânicas. Somente quem soubesse ler os astros e conhecesse essas profecias poderia ter entendido a mensagem da estrela.

 

Para os armênios eram doze magos

 

adx3Pela tradição católica, os magos eram em número de três; para os armênios e sírios eles eram doze. A questão dos números parece não ter preocupado muito os cristãos primitivos. Assim, vamos encontrar, nos monumentos antigos, representações das mais diversas: nas pinturas do cemitério de São Pedro e Marcelino aparecem apenas dois magos; eles são quatro no cemitério de Domitila, e oito num vaso antigo que se encontra no Museu Kircher.

 

A certeza dos católicos é baseada no número de presentes que Jesus recebeu: ouro, incenso e mirra. Ora, sabemos que o número três é um número mágico por excelência. O três é o número da perfeição e simboliza a fecundidade, a harmonia e a sabedoria. Alguns viram no ouro o símbolo da realeza, no incenso a espiritualidade e na mirra a representação de um ser destinado a nascer e morrer (a mirra era usada para embalsamar cadáveres).

Outros viram na adoração dos magos o resumo de toda a humanidade, representada pelo descendente de cada um dos filhos de Noé. Baltazar, nome caldeu, seria o descendente de Sem; Melquior representaria os egípcios e etíopes, que são tidos como filhos de Cam; e finalmente, Gaspar, habitante do Cáspio, lembra a raça de Jafé. Apesar da poesia da interpretação, não podemos concluir que eles eram três nem que vieram de países tão diferentes: para São Mateus eles vieram de um único país.

Em todas as representações dos magos existe sempre uma constante: eles nunca aparecem vestidos como reis mas como ricos cidadãos persas e trazem sempre na cabeça um boné frígio (o mesmo utilizado pela seita secreta Iluminados da Bavária e algumas correntes ortodoxas da franco-maçonaria).

 

Uma estrela milagrosa

 

adx1São muitas as tentativas de definir a estrela dos magos. Para os antigos essa estrela era um milagre. Santo Ignácio, mártir, afirma que “uma estrela brilha no céu com um esplendor que supera todas as demais; sua luz é indescritível e sua novidade emociona de espanto”. Evidentemente existe um certo exagero na descrição de Santo Ignácio pois, se surgisse no céu alguma estrela tão fulgurante, os contemporâneos teriam notado e registrado o fato. Como isso não ocorreu, acreditamos que o sinal era bem mais sutil. Orígenes, escritor sacro que viveu no século III, foi bem mais discreto: “Sou da opinião que a estrela que apareceu aos magos no Oriente era uma estrela nova, que nada tinha de comum com aquelas que aparecem no firmamento ou nas camadas inferiores do ar. Provavelmente pertencia ao tipo de corpos que costumam aparecer de vez em quando e que os gregos chamavam, segundo seu formato, ora de cometas, ora traves de fogo, ora estrelas caudadas, ora de outros nomes”. A posição de Orígenes é rigorosa e daí podemos tirar duas hipóteses prováveis: ou era um cometa ou uma estrela nova.

Os cometas sempre impressionaram os homens e são considerados anunciadores de acontecimentos extraordinários. No ano 44 a.C., logo depois do assassinato de César, surgiu um planeta muito brilhante. Dezessete anos antes de Cristo uma estrela caudada foi registrada. Somente no ano 66 de nossa era surgiu outro cometa.

Pelo fato de o cometa ser um fenômeno constante, não atendendo às exigências do texto evangélico, e pelo fato de nenhum cometa ter sido registrado na área mediterrânea na época do nascimento de Cristo, essa hipótese deve ser abandonada.

Os astrônomos chamam de estrelas novas a formações estelares que, numa explosão gigantesca se fragmentam subitamente. Seu clarão é extraordinário e sempre que percebido é mencionado. As duas estrelas novas próximas de Cristo que foram registradas datam do ano 134 e 173; logo, a estrela dos magos também não era uma nova.

 

A ciência confirma a astrologia

 

adx2Pouco antes do Natal de 1603, Kepler, matemático e astrônomo, estava observando a aproximação de dois planetas, com seu pequeno telescópio. No céu ocorria uma conjunção, ou seja, posicionamento de dois corpos celestes num mesmo grau de longitude. Algumas vezes dois planetas se aproximam de tal maneira que dão a impressão de serem uma estrela, maior e mais brilhante. Naquela noite Kepler observava a conjunção de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes.

Ao repassar suas anotações, Kepler ficou emocionado, pois lembrou-se de um antigo texto do escritor judeu, rabino Abravanel, que falava da influência benéfica dessa constelação. Ora, Kepler também era astrólogo e sabia que a vinda do Messias deveria ocorrer por ocasião de uma conjunção de Saturno e Júpiter na constelação de Peixes.

Perturbado com sua própria descoberta, Kepler se perguntava se a conjunção ocorrida por ocasião do nascimento de Jesus Cristo não teria sido a mesma que observara naquela noite.

Seus cálculos astronômicos posteriores confirmaram a suspeita: no ano 7 a.C. ocorreu uma conjunção de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes. Como suas tabelas astrológicas apontavam o ano 6, ele ficou com a segunda hipótese.

Suas teorias foram amplamente difundidas, mas caíram no esquecimento para serem redescobertas no século 19. Eis que, em 1925, o sábio alemão Schnabel, conseguiu decifrar as antigas anotações cuneiformes da escola astronômica de Sippar, na Babilônia. Ali existia um texto que falava de uma conjunção de Saturno e Júpiter na constelação de Peixes. Kepler tinha razão…

Para o astrônomo moderno, é muito fácil reconstituir o céu tal como era há milhares de anos. Para isso, basta ajustar no planetário um céu estrelado e fazer voltar o relógio do tempo. O relatório astronômico moderno diz: no fim de fevereiro do ano 7 a.C., Júpiter saiu da constelação de Aquário e encontrou-se com Saturno na constelação de Peixes. A 12 de abril, durante a madrugada, os dois planetas já eram visíveis. A 29 de maio deu-se a primeira conjunção, visível por umas duas horas; a 3 de outubro o fenômeno se repetiu e a 4 de dezembro, ocorreu a terceira e última conjunção.

Além desse fenômeno poder ser observado a olho nu em toda área mediterrânea, a conjunção se repete em datas precisas, atendendo a algumas exigências do texto evangélico. Mas duas perguntas persistem:

  1. Se a estrela dos magos foi essa conjunção, por que ela teria ocorrido no ano 7 a.C.?
  2. Se o fenômeno pôde ser observado na Babilônia, por que os magos viajaram para Jerusalém?

 

Um erro de cálculo

 

Historiadores, arqueólogos e teólogos concordam que o Natal foi fixado de maneira errônea não apenas quanto ao dia, mas também quanto ao mês e ano. Historicamente, Herodes morreu na cidade de Jerico no ano 4 a.C. Ora, São Mateus afirma que os magos chegaram a Jerusalém “nos dias do rei Herodes”; ou seja, Herodes estava vivo e ainda se encontrava em Jerusalém. Quando Herodes morreu, a Sagrada Família já se encontrava exilada no Egito. Sabendo-se que eles fugiram por ocasião da ordem de Herodes de mandar matar todas as crianças com menos de dois anos de idade e levando-se em conta que ele tinha sido informado “precisamente” da data do nascimento da criança, o menino que os magos adoraram tinha mais de um ano de vida. Se a encarnação de Jesus Cristo se deu por ocasião da primeira conjunção, a coincidência com os cálculos modernos é perfeita: o ano zero que marca o nascimento de Jesus Cristo deveria ser recuado em seis anos.

O responsável pela confusão foi o padre Dionísio Exíguo que, por volta de 530, foi encarregado de estabelecer um calendário que determinasse o início de nossa era.

Ele simplesmente esqueceu o ano zero que deveria existir entre o ano 1 antes e 1 depois do nascimento de Cristo. Não considerou, também, os quatro anos que o imperador Augusto reinou com o nome de Otávio. Com um único erro de cálculo, conseguiu eliminar cinco anos de nosso calendário.

Assim, a conjunção de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes ocorreu’ realmente no ano do nascimento de Cristo. Resta esclarecer por que os magos viajaram para Jerusalém.

 

Profetas e astrólogos da antiguidade

 

adx4Depois de conviver durante séculos com os judeus, nada mais natural que os magos fossem influenciados pelo judaísmo; principalmente pelas profecias messiânicas. Uma das profecias dizia: “Uma estrela se elevará de Jacó”; outra, mais precisa, afirmava:  “E tu, Belém, tu és pequenina entre milhares de Judá; mas de ti é que há de sair aquele que há de reinar em Israel…”

Mas as profecias não bastavam, era necessário outro sinal.

Os magos, como já dissemos, foram grandes astrônomos e astrólogos. Eles sabiam que cada estrela, cada constelação, possui um significado especial. Para os caldeus, a constelação de Peixes é o símbolo do Ocidente; para os judeus, ela é o símbolo do Messias. Como essa constelação se encontra no fim de uma trajetória completa do Sol, pode ser interpretada como o início de uma nova era. Júpiter é o símbolo da realeza e da sorte; e Saturno é o protetor do povo judeu e de Israel. De posse desses conhecimentos, a leitura de um fenômeno celeste torna-se fácil: Júpiter (realeza) se aproxima esplendorosamente de Saturno (Israel) na constelação de Peixes (Messias – Ocidente). Os magos entenderam a mensagem e partiram rumo ao Ocidente.

A presença dos magos em Jerusalém chamou a atenção de todos: o anúncio do nascimento do rei dos judeus provocou grande alegria no povo (existem provas históricas) e temor em Herodes. Um ano após a primeira conjunção registrou-se na Palestina um forte movimento messiânico. Flávio Josefo, historiador judeu, diz que nessa época correu o rumor que Deus tinha decretado o fim do domínio romano e que um sinal divino tinha anunciado o nascimento de um soberano judeu. Nada mais natural que Herodes temesse pela sua sorte: ele não era judeu mas idumeu.

É fantástica a descrição que São Mateus faz da viagem dos magos de Jerusalém a Belém: “Eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino” (Mat. II, 9). O texto dá a impressão de que a estrela caminhava diante dos olhos dos magos. Ora, a terceira conjunção era visível logo ao anoitecer e, como a constelação deveria estar numa posição favoravelmente baixa, eles viajaram o tempo todo com ela diante dos olhos. Mas o texto diz ainda que ela parou. Isso a ciência não explica. Ou uma intuição indicou precisamente o local, ou então, como nosso planeta sempre foi visitado por seres extraterrenos, um objeto voador guiou realmente os magos, indicando o local onde se encontrava aquele que tinha sido escolhido para mudar a história da humanidade.

 

Fonte: Revista Planeta – Edição número 5 – Janeiro de 1973

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