Uma sucessão de eclipses marcou esta obra prima de Shakespeare…

imageN4SDavid Levy, da Universidade Hebraica em Jerusalém, escolheu como tema de seu doutorado “Humanidade e o Cosmos: Astronomia e Astrologia no Rei Lear” e apresentou seus estudos em um artigo na revista Sky & Telescope de Junho 2002. 

A famosa tragédia de Shakespeare tem como tema um velho monarca, cujo plano de dividir o reino entre as 3 filhas, termina em catástrofe. 

O interesse do Sr. Levy pela peça deve-se à mestria de Shakespeare em relacionar a humanidade e o cosmos, mantendo os eventos celestes na mente de suas plateias. 

No Rei Lear, Shakespeare faz alusão a uma sequência de eclipses do Sol e da Lua.  

Na primeira cena do primeiro ato, o Conde de Gloucester diz o seguinte “Estes últimos eclipses, do Sol é da Lua não são bons para nós. Embora o bom senso da natureza possa assim justiça-la, encontra-se nela própria, castigos para os efeitos sequentes: o amor esfria, diminui a amizade, irmãos dividem-se: nas cidades, motins, nos países, discórdia; no palácio, traição”… 

Após a saída do Conde de Gloucester, seu filho ilegítimo, Edmund, furiosamente questiona essa conclusão. “Esta é uma excelente mostra do mundo, que, quando estamos desafortunados, muitas vezes pelo excesso de nosso próprio comportamento, nós culpamos de nosso desastre, o Sol, a Lua, e as estrelas; como se fôssemos vilões por necessidade, estúpidos pela compulsão celeste”.
 

Conde de Gloucester

Em suas pesquisas, o Sr. Levy procurou localizar os eclipses mais prováveis e verificou que, após 50 anos sem a visibilidade de eclipses importantes do Sol, três eclipses ocorreram próximos das ilhas Britânicas. O primeiro em 7 de Março de 1598, quando mais de 95% de obscurecimento do Sol foi visto em Londres. O segundo, um eclipse anular, em 24 de dezembro de 1601 e finalmente em 12 de Outubro de 1605 (calendário Gregoriano, mas pelo calendário Juliano, ainda em vigência na Inglaterra na ocasião, a data era 02 de outubro), os habitantes de Londres viram 90% do obscurecimento do Sol. 

Considerando que a peça, não teria sido escrita antes de 1603, o eclipse de 1605 seria o mais provável, porque foi o mais importante dos três, visível em toda a Europa e citado no Annales Célestes du Dix-Septiéme Siécle do astrônomo francês Alexandre Guy Pingré do século 18. A série de Saros do eclipse de 1605 é a mesma daquela do eclipse anular do Sol de 10 de junho de 2002, após 22 eclipses a série continua ativa. 

King Lear

O eclipse do Sol foi precedido por um eclipse parcial da Lua em 27 de setembro de 1605. Este eclipse Lunar é da mesma série de Saros do eclipse penumbral da Lua de 26 de Maio de 2002. Entretanto no ano de 1605, um outro eclipse lunar ocorrido em 03 de abril, foi mais importante para os londrinos, porque aproximou-se da totalidade. O Conde de Gloucester deveria estar fazendo referência ao eclipse da Lua de 03 de abril em conjunto com o eclipse solar de 12 de outubro.

As séries de Saros, foram descobertas na Babilônia. Cada série engloba um conjunto de 70 eclipses, que começa em um dos polos, atravessa toda a Terra e termina no polo oposto. No início, os eclipses são parciais, a medida que se aproximam do Equador são totais e quando voltam a afastar-se, voltam à parcialidade. No caso dos eclipses do Sol, entre os parciais e totais, eles passam pela condição de anulares, como foi o caso do eclipse de 10 de junho de 2002. 

Eclipse na Babilônia

Um eclipse da mesma série, ocorre a cada 18 anos e 10 ou 11 dias e esta repetição, descoberta na Babilônia, move-se para oeste, em relação a longitude em que foi visível. No Zodíaco este movimento corresponde a 10º para trás em cada repetição. Os astrônomos consideram 80 séries de Saros (solar e lunar) e os astrólogos trabalham apenas com as solares, sendo 19 de Nodo Norte e 19 de Nodo Sul. Mesmo na Astrologia Mundial, são poucos os astrólogos que hoje utilizam as séries de Saros, entretanto há poucos anos, a australiana Bernadette Brady recebeu um prêmio internacional de Astrologia por seu trabalho com estas séries.

Cada série permanece ativa durante aproximadamente 13 séculos. Antes do final da série, começa a que irá substituí-la e está condição faz com que eclipses do mesmo tipo, do Sol ou da Lua, ocorram com um intervalo de apenas um mês, quando o normal é um intervalo de 6 meses. Este é o caso dos dois eclipses lunares, de 26 de Maio e 24 de Junho de 2002.

Levy afirma que o Rei Lear foi representado antes do reinado de James I, que tornou-se rei de Inglaterra em 26 de Dezembro de 1606, cita também, que outras evidências sugerem que Shakespeare, não escreveu a peça antes de 1603, e caso o autor pretendesse lembrar às suas plateias os eclipses, que elas haviam presenciado, ele poderia estar fazendo referencia aos eclipses de 1605.  

James I

Para reforçar a hipótese de Levy, há uma outra passagem no Rei Lear. Discutindo com o meio irmão, Edgar, a respeito da predição que ele havia lido quanto “ao que segue estes eclipses” Edmund, fala dos efeitos maléficos incluindo “anormalidades entre filhos e pais”. Esta frase foi relacionada a um panfleto publicado pelo escritor Edward Gresham em Fevereiro de 1606, que conta sobre estranhos acontecimentos na Croácia, incluindo o relato de uma mulher que deu a luz à um filho com quatro cabeças, como resultado direto dos eclipses recentes (o panfleto foi trazido à luz em Dezembro de 1934 no Times Literary Supplement, página 856 ) 

O interessante do estudo do Sr. Levy é a descoberta de que um par de eclipses do século 17 está se repetiu agora, no século 21. David Levy lembra, que poderíamos imaginar nossos ancestrais observando estes mesmos eclipses 400 anos atrás. 

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image7TTCelisa Beranger
 
é astróloga, diretora do Espaço do Céu Centro de Astrologia, no Rio de Janeiro
 
autora do livro “A Evolução Através das Progressões
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