ceu hunaHavia, certa vez, uma vila, perto da qual ficava um templo em ruínas. Dizia-se que ele havia desmoronado por um tremor de terra, quando os deuses estavam muito zangados, e os sacerdotes tinham sido mortos na queda. Dessa forma, ninguém podia ter certeza de qual deus tinha vivido no santo-dos-santos do templo e qual poderia ter sido seu nome.

Contudo, conservou-se uma tradição referente a esse Desconhecido. Murmurava-se que, em tempos passados, não se tinha senão que entrar no templo, ultrapassar os sacerdotes e ficar em certa rotunda para estar na presença do Desconhecido. Uma vez lá, podia-se pedir o que era desejado e seria concedido. A lendária rotunda ainda existia e muitos eram os habitantes da vila que entravam nela e diziam uma prece, esperando que o Desconhecido ouvisse e respondesse com o poder miraculoso e a generosidade que a tradição descrevia.

Às vezes, uma prece era respondida, ou pelo menos a coisa pedida acontecia. Alguns afirmavam que a prece fora respondida, outros que a coisa desejada teria acontecido por si própria, de qualquer forma. Mas era largamente mantida a crença de que havia uma chave perdida em toda a questão. Foi decidido que se devia trazer alguma coisa rara como presente, a fim de ser ouvido. Alguns pensavam que era preciso saber e falar um certo nome secreto e esquecido do Desconhecido e outros diziam que uma certa fórmula devia ser usada ao fazer a prece e oferecê-la como presente.

Por fim, foi concluído que todos os melhores e mais sábios homens e mulheres da vila deveriam revezar-se em apelar ao Desconhecido, com uma oferenda e um pedido, e proceder como ele ou ela achasse melhor. Então, se algum deles encontrasse a oferenda, fórmula ou combinação destes, certa, o segredo devia ser compartilhado com todos. Esse era o compromisso — compartilhar o segredo com todos.

Um escriba foi apontado para sentar-se com tábuas de argila e estilo para registrar as coisas que cada adorador fazia e dizia, pois fora decidido que o registro devia ser conservado com muitos detalhes e com o máximo cuidado, não importa quão simples pudesse ser o apelo de algum senhor idoso e tremulo ou de uma virgem inexperiente.  
 

Nada devia ser desprezado — mesmo o tolo da vila podia acidentalmente topar com o presente ou palavra corretos.

Dias após o escriba observava e escrevia em sua lousa de argila molhada, colocando cada cilindro completo e numerado, cuidadosamente, para secar ao sol. Umas poucas preces menores pareciam na verdade ter sido ouvidas e respondidas. A vaca da viúva recuperou-se rapidamente e a chuva necessária certamente chegou depois que um dos anciãos orara fervorosamente por ela. Mas, como todos tristemente admitiram, a vaca podia ter se recuperado e a chuva podia ter caído sem o benefício da prece.

Quando se aproximou o fim do verão, os cilindros de argila acumulados tinham subido quase até formar um altar; havia tantos deles e ainda faltava — a chave perdida não tinha sido encontrada. Transmitiu-se a palavra de que o teste chegaria ao fim, porque não havia ninguém que não tivesse tentado. Finalmente o escriba ficou sozinho, perguntando-se o que faria com seus muitos registros.

“Que desperdício de meu melhor tempo e esforço”, dizia tristemente. “E que infelicidade que nenhum dos aldeões sabia a forma correia de apelar ao Desconhecido”. Ele suspirava e começava metodicamente a arremessar os cilindros de argila fora da rotunda, nos escombros. Quando finalmente terminou, escovou o assoalho de mármore com cuidado, a fim de que o lugar do Desconhecido ficasse arrumado e imaculado. Em sua mente, estava pensando:

“Ninguém viu o Desconhecido e alguns dizem que ele não está mais aqui. Mas em todas estas semanas, enquanto eu observava, ouvia e registrava, tive um sentimento crescente de que o Desconhecido estava realmente aqui, que estava ouvindo com muita esperança, tão ansioso de ver encontrada a chave perdida quanto qualquer pessoa viva.”

Repentinamente sentiu uma onda de emoção levantar-se dentro dele. Ergueu o rosto e disse: “Oh, Desconhecido, não fiques triste! Mesmo se a chave estiver perdida e mesmo se os homens cessarem de acreditar que tu existes, ou que tu ouves! Se for de algum consolo para ti, sabe que eu, o Escriba, acredito em ti sem sombra de dúvida. Sei em meu coração que tu estás sempre aqui e que anseias por ajudar-nos… Então ouve-me agora, grande Desconhecido! Faço uma última prece antes que os homens te deixem ficar esquecido. Não sei nada da chave, não tenho oferenda e não há nada que eu deseje pedir. Tudo o que desejo é que tu possas conhecer a minha fé na tua veracidade e que te amo e anelo confortar-te de alguma forma.”

O escriba fez uma pausa por um longo momento e então acrescentou, desculpando-se: “Sou apenas um pobre homem e tenho pouca sabedoria, mas se de alguma forma consolar-te, ó Desconhecido, deixa teu templo, que ficará solitário agora e vem viver comigo em minha humilde morada; serias mais que bem-vindo. Eu compartilharia tudo o que tenho contigo e te amaria e adoraria… e nunca pediria que respondesses a uma prece. Seria suficiente somente saber que tu estavas comigo e contente de ser amado e convidado e sentar-se à minha mesa, andar fora de casa comigo ou descansar no frescor do dia à sombra de minha árvore…”

O escriba não podia pensar em mais nada para dizer, assim cessou de falar e virou-se para ir. Quando se virou, repentinamente sentiu a Presença, forte e certa desta vez. “Ah!”, gritou com a alegria inundando-o, “Estás aqui! Tu virás! Viverás comigo e compartilharás de minha vida e deixar-me-ás confortar-te, amar-te e servir-te! Obrigado do fundo do meu coração… Agora vamos. Devo dizer à minha boa mulher para colocar um lugar para Ti na cabeceira da mesa. Vem!”

Dizem que há uma tábua de argila num museu empoeirado e sobre ela o registro de toda a questão. Ao final do registro, onde a argila do cilindro tinha sido quebrada de formas que somente parte da mensagem podia ser lida, pode ser encontrado o que o Escriba registrou no fim de sua vida como “A Verdadeira Chave”.

Estas palavras podem ser decifradas: “verdadeira Chave… oferenda… amor… da mente… coração… no profundo interior… todas coisas necessárias… renovo diariamente a oferenda…” As ultimas palavras podem ser lidas bem claramente: “O Amor é poder e adoração.” 
 

Moisés deu a chave oculta quando proclamou os mandamentos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, toda tua alma e todo teu poder.” Afastando o véu de suas palavras, vemos que no “coração” temos o eu básico. A emoção do amor vem dele. Na “alma” temos o eu médio, que ama após raciocinar sobre todas as coisas que merecem amor. E, na frase “todo teu poder”, temos o Segundo Mistério do mana ou força vital que deve ser enviado ao Eu Superior, que ocupa o lugar de Deus Supremo, por sobre e acima de cada um de nós.

O Amor de Deus é coisa natural nas criaturas do mundo, mesmo se não reconhecido como tal pelo inseto, pássaro ou animal. Instintivamente eles vibram na harmonia da Vida, que é amor e uma força de união e construção, não uma força destrutiva.

O eu básico normal amará o eu médio e o Eu Superior, instintivamente. Não precisará ser ensinado. Ele é como um cão fiel que esbanja amor sem questionar seu amo, a não ser que o abuso e o temor resultante o façam encolher-se e bater em retirada. 
 

O que necessitamos é de um eu básico livre de todos os temores de um “Deus ciumento e vingativo” dos ensinamentos do Velho Testamento. Precisa ser libertado dos falsos sentimentos de culpa e ser-lhe permitido fazer reparação de uma forma ou de outra, pêlos “pecados” cometidos pelo seu homem. Deve ser-lhe dito pelo eu médio que está perdoado e purificado e que é profundamente amado, a despeito de todos os pecados passados de cometimento ou omissão. Somente quando liberado e purificado das convicções reais e falsas de “pecado”, pode o eu básico expressar plenamente sua emoção natural de amor. A emoção gera mana — é parte e parcela dele, e o amor leva mana aos Eus Superiores, porque instintivamente desejamos dar alguma coisa àqueles a quem amamos. A regra devia ser estabelecida desta forma: “Nenhuma emoção, nenhum mana. Nenhum amor, nenhum mana enviado como oferenda para dar poder aos Eus Superiores.” Quando não forem sentidos amor e forte desejo emocional ao fazer uma prece, pode-se ter certeza de que o eu básico não está desempenhando seu papel, e que a prece será ineficaz.

A fim de amar o Eu Superior necessitamos somente chegar a conhecê-lo, — não apenas através da razão e da reação emocional despertada pelo contato com o eu básico, mas também pela intuição. A intuição é algo dado ao eu básico pelo Eu Superior. É o Eu Superior mostrando seu rosto, por assim dizer, e uma vez que aquele rosto brilhante de Luz é visto ou sua presença é sentida, há um CONHECIMENTO.

A fim de CONHECER, devemos conservar em mente o fato de que a razão e a emoção, enquanto indispensáveis como um fundamento para nossa crença, não podem nunca dar-nos aquela “certeza” interior final, completa e duradoura que dispersa as dúvidas como a luz dispersa as trevas em toda nossa vida. Esta luz somente pode vir do Eu Superior, porque ele é a Luz. 
 

Esta coisa brilhante e maravilhosa que estamos discutindo tem sido o objeto de incontáveis ensinamentos e escritos esotéricos. Eles todos podem ser resumidos no mandamento oculto “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus”.

O conhecimento intuitivo foi chamado de “realização” em alguns países. Nos círculos cristãos primitivos foi chamado de “iluminação”, porque tantos eram capazes de ver o Eu Superior como uma luz branca sem semelhança com nenhuma luz terrestre. Mais tarde, a palavra “batismo” veio substituir “iluminação” e o verdadeiro significado foi gradualmente perdido.

Os primitivos sábios do Islam eram inclinados a velar o Segredo de forma menos densa. No Kashf AI-Mahjub podemos ainda ler a conclusão final alcançada, depois de longas deliberações, por um grande sábio cuja bíblia era o Alcorão.

Escreveu ele:

“Você deve saber que o conhecimento concernente à existência do espírito é intuitivo… e a inteligência é incapaz de apreender sua natureza (do espírito).”

Nossa busca por Deus é a busca por nós próprios. Deus está em nós e nós nEle. Na busca por nós mesmos, devemos trilhar levemente e ouvir cuidadosamente. O eu básico fala-nos com emoção, e quando perguntamos: “É verdade que somos três?”, ele responderá, quando tiver aprendido a verdade absoluta deste fato, com um fluxo rápido de emoção de completa confiança e fé. Se então perguntamos ao Eu Superior: “Isto é total e completamente verdadeiro?” ele responderá, mas de uma forma muito diferente. A intuição é um conhecimento súbito. Pode ser reconhecido porque está acima, além, livre da necessidade de raciocínio, memória ou emoção. E quando aquele súbito conhecimento chega num relâmpago do Eu Superior, não há chance possível de contradição ou erro. É como se Deus tivesse falado em nós e proferido a palavra final da verdade. Às vezes nos são dados conhecimentos intuitivos de um estado que podemos um dia experimentar. Este estado é um no qual não mais dependemos dos sentidos do eu básico ou do raciocínio do eu médio para dizer-nos que somos um ser vibrante e vivo. Uma vez que se receba esta experiência intuitivamente, nunca se pensa em duvidar que tal estado seja real e que algum dia pode-se entrar nele e experimentá-lo.

A tradição do Eu Superior é muito clara no Cristianismo, como também na literatura gnóstica não incluída no Novo Testamento, quando muitos escritos foram classificados e alguns selecionados para tornar-se a versão oficial da Igreja primitiva. Considere estas passagens:

E quando os fariseus perguntaram quando o reino de Deus chegaria, ele respondeu-lhes e disse: “O reino de Deus não vem a fim de que seja observado. Nem dirão eles: ei-lo aqui ou ei-lo ali, pois vede, o reino de Deus está dentro de vós”. (Lucas, 17, 21-22).

Lembrando o que decidimos sobre o conhecimento intuitivo que vem dos Eus Superiores para completar nossa crença e fé, pondere sobre esta citação de um dos escritos gnósticos, tirada da página 602 do livro de G.R.S. Mead “Fragmentos de uma Fé Esquecida”, na seção denominada “Alguns ditos esquecidos”:

“Disse Jesus… e o Reino do Céu está dentro de vós; e quem quer conhecer a si próprio o encontrará. Esforçai-vos, pois, em conhecer-vos e estareis cientes de que vós sois os filhos do Pai; e vós sabereis que estais na Cidade de Deus e que vós sois a Cidade.”

Em seguida, considere este trecho de uma antiga fonte hindu, o Brihad Aranyaka Upanishad:

“Onde é o lugar da verdade? No coração, disse ele, pois pelo coração o homem conhece a verdade; o coração, portanto, é o lugar da verdade.”

O coração é o símbolo do lugar de encontro dos eus básico e médio. É onde eles se tornam um, compartilhando suas crenças mútuas e abençoando-as com o raciocínio, de um lado, e a emoção da fé, do outro. Mas o Pai-Mãe Eu Superior frequentemente sente isso telepaticamente, quando voltamos nossos pensamentos e emoções para a única verdade de que o homem é três, assim como é Deus.

Nunca poderemos estar inteiramente certos e convencidos o tempo todo, sem sombra de dúvida, de que possuímos a verdade sobre os três eus — a verdade suprema — até que o conhecimento intuitivo seja alcançado. 
 

EXERCÍCIOS

Imagine-se em uma situação em que não pode acreditar em nada, de forma alguma, com confiança. Imagine que você repentinamente descobre que as tabuadas de multiplicação estão todas erradas e que duas vezes quatro nem sempre dá oito. Imagine um lugar onde não se pode depender da força da gravidade e onde se pode flutuar com a brisa sem aviso prévio. Imagine a incerteza sobre se o sol poente se levantará novamente ou a incerteza sobre se a água estará boa para beber, no dia seguinte. Retorne ao seu próprio mundo maravilhoso e agradeça, pois o Deus em você e em seus muitos irmãos maiores ou menores é totalmente confiável e nunca mudará as leis por causa de alguma fantasia passageira. Agradeça que você também está se tornando mais e mais totalmente confiável dia após dia, em tudo o que você faz. 

AFIRMAÇÃO: Vejo claramente que a verdade e a ordem caminham de mãos dadas. Devo perceber a grande verdade de meu ser triplo, e devo prosseguir de forma ordenada, passo a passo, seguindo as regras, a fim de que não possa transviar-me.

Dou graças pelas grandiosas leis que tornam todas as coisas ordenadas. Aceito aquela ordem como a lei central do viver e de minha própria vida. 

AFIRMAÇÃO: Raciocinei cuidadosamente e estou convencido de que posso receber o conhecimento interno de meu ser, que não deixará nenhuma margem de dúvida. Afirmo minha crença na verdade de meu eu, de meu eu básico e de meu Eu Superior. Afirmo minha crença de que posso ensinar meu eu básico a acreditar no que creio, contando e recontando-lhe pacientemente. Acredito que quando nós, eus básicos e médios, tivermos feito nossa parte e estivermos prontos, o Eu Superior nos dará o ingrediente do puro conhecimento. Após isso, nossa unidade permanecerá grandiosa e inquestionável, que é a soma da sabedoria.

Dou graças que agora entendo como vencer as dificuldades para chegar à suprema fé que vem com o conhecimento. Prometo trabalhar pacientemente cada dia para ensinar meu eu básico a crer, como eu creio, e quando chegar a hora, vigiarei cada dia e convidarei a vinda da Luz que ilumina o mundo todo com seu conhecimento.

AFIRMAÇÃO: Vejo claramente que a prece eficaz torna-se possível quando meu eu básico é ensinado a acreditar como eu creio, na Verdade, e quando, após isso, o Eu Superior puder dar o CONHECIMENTO intuitivo que torna a fé e crença certas e estáveis. Continuo a tomar as medidas necessárias para alcançar este ponto em meu crescimento.

Percebo que amor e ausência de egoísmo são a LEI no nível do Eu Superior, e que nenhuma prece é respondida, se pedir por fins egoísticos ou bênçãos para mim apenas. Também percebo que, quando sinto grande amor e desejo de ajudar o outro, estou caminhando com a Lei Superior e posso eu próprio ser abençoado com a resposta à minha prece por outrem.

Ensinarei esta lição a meu eu básico pela repetição e exercício pacientes, dia após dia, até que seu egoísmo animal ceda à bondade, comiseração, compaixão e AMOR.

Afirme com Isaías (40:31) “Mas aqueles que esperam no Senhor (Eu Superior) renovarão as suas forças; voarão (no conhecimento) como águias; correrão e não se cansarão, andarão e não desfalecerão.”

Afirme como o Três Vezes Grande Hermes: “Porque nunca… poderá uma alma incorporada, que uma vez saltou para as alturas a fim de conseguir agarrar o verdadeiramente Bem e Verdade, escorregar de volta ao contrário.”

PRECE: Guia-nos da escuridão para a Luz. Guia-nos da crença racional para a fé que inflama com a emoção e adiante até o CONHECIMENTO, que ultrapassa todos conhecimentos e ilumina a Verdade.

OBSERVAÇÃO: Esta seção de leituras é básica e precisará ser repetida tantas vezes quanto for necessário para gravar no eu básico as verdades que rodeiam a verdade do Eu Superior.

Continue voltando a elas, fazendo uso diário das afirmações. Se o tempo for limitado, selecione umas poucas sentenças que contenham o que pareça adaptar-se às necessidades do dia e medite nelas enquanto trabalha. Marque seções que forem consideradas especialmente úteis e use-as repetidamente, para tê-las bem plantadas em seu eu básico.

Faça suas próprias afirmações, que sejam adequadas a necessidades particulares e procure passagens inspiradoras em seus escritos religiosos favoritos para meditar sobre elas e ajudá-lo em um CONHECIMENTO interior profundo e duradouro.

maxMax Freedom Long 
Psicólogo e lingüista 
Morou no Hawaí na primeira metade do século XX, 
revelou ao mundo a filosofia e as técnicas dos Kahunas, 
para todo tipo de “cura” do físico, da alma, do ambiente e da sociedade 
(desde os desequilíbrios sociais até as desavenças familiares), 
mostrando a eficácia e atualidade dos conhecimentos 
daquele povo que podem beneficiar o cotidiano 
de cada indivíduo no mundo de hoje.

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