chartA catedral, na tradição cristã, deve ser a casa de Deus na terra e, como tal, “reflexo da ordem e da beleza que resplandecem em Seu trono”.

 
Os construtores medievais, grupos de pedreiros livres que desempenhavam seu ofício em toda a Europa, foram os criadores dos mais fascinantes testemunhos de inteligência e fé no final da Idade Média, as catedrais góticas.
 
Essas obras revelam a genialidade dos mestres construtores e algumas de suas técnicas. A catedral era, seguindo uma visão hierárquica das igrejas, meramente uma moradia para bispos e sua assembleia religiosa. Porém, com o clima de grande disputa no início do período gótico, essas catedrais assumiram grandes proporções se tornando verdadeiros monumentos.
 
A construção de uma catedral gótica formigava com dúzias de trabalhadores dispostos em times de trabalho e que recebiam por aquilo que faziam.
Cada construção era supervisionada por um mestre construtor e por volta de 30 artesãos especialistas. Esses especialistas e alguns de seus mais habilidosos trabalhadores se moviam de função em função aplicando lições aprendidas e passadas de um a um.
 
O mestre construtor atuava como um projetista, um artista e ainda como um artesão. Com o auxílio de réguas, compassos, esquadros e outras poucas ferramentas geométricas, ele fazia as plantas da catedral.
 
Aí está a origem das Lojas Maçônicas modernas, que aproveitaram a estrutura das lojas de construtores medievais, suas ferramentas e algumas práticas e a isto associaram conhecimentos iniciáticos milenares, patrimônio intelectual, da humanidade, anterior ao cristianismo.
 
Construção de uma Catedral Gótica
Construção das abóbadas Salvadori, Mario.
Why Buildings Stand Up. WW Norton & Company, New York, 1990
 
A planta básica da catedral gótica pouco diferia das encontradas em catedrais de períodos anteriores. Sob a forma de uma cruz, a catedral se dividia basicamente em: nave, transeptos,  e coro.
 
Na parte inferior da cruz se situava a nave central circundada por naves laterais; na faixa horizontal existiam os transeptos e o cruzeiro, e na base da nave tinha-se a fachada principal; existiam ainda torres, porém de localização variada.
 
Legenda:
1. Capela Radial
2. Deambulatório
3. Altar
4. Coro
5. Corredores laterais do coro
6. Cruzeiro
7. Transepto
8. Contraforte
9. Nave
10. Nave lateral
11. Fachada, portal.
Fundação da Catedral Macaulay, David.
Construção de uma Catedral. Martins Fontes, São Paulo, 1988
A fundação das catedrais tinha por volta de 9 metros de profundidade e era formada por camadas de pedras (blocos de calcário) assentadas com argamassa cuidadosamente dosada de areia, cal e água sobre a terra argilosa no fundo da escavação.
 
Construção dos arcobotantes Macaulay, David.
Construção de uma Catedral. Martins Fontes, São Paulo, 1988.
Devido ao custo, os andaimes eram mínimos, assim os trabalhadores confiavam sua alma a Deus e andavam sobre flexíveis plataformas.
Um perigoso momento para os trabalhadores ocorria quando as paredes atingiam suas alturas finais e os troncos de madeira para o telhado deviam ser elevados a essas alturas.
 
Construção dos arcobotantes e telhado Macaulay, David. Construção de uma Catedral. Martins Fontes, São Paulo, 1988.
 
O telhado era colocado antes da construção das abóbadas. Auto-portantes, os telhados serviam de plataforma para a subida do maquinário empregado na construção das abóbadas de pedra.
 
Construção da abóbada Macaulay, David.
Martins Fontes, São Paulo, 1988.
Assim, com o telhado pronto, podia-se iniciar a construção das abóbadas.
Uma a uma, as pedras talhadas das nervuras eram colocadas sobre os cimbres de madeira e firmadas pelos pedreiros. Entre os cimbres eram instaladas tábuas de madeira, as quais funcionavam como base para o assentamento das pedras durante a secagem da argamassa. Após a secagem da argamassa, aplicava-se sobre as pedras uma camada de dez centímetros de concreto (buscando evitar fissuras entre as pedras).
Estando o concreto seco, as tábuas eram retiradas, seguidas pelos cimbres, finalizando-se a abóbada (vide sistema estrutural).
 
Sistema Estrutural de uma Catedral Gótica
Estrutura de uma catedral românica
As catedrais românicas possuíam um sistema estrutural baseado em espessas paredes e abóbadas semicirculares localizadas logo abaixo do telhado. Dispostas como indicado na figura, as paredes tinham que ser espessas e com poucas aberturas, pois resistiam tanto aos esforços verticais, quanto aos esforços horizontais gerados pelo vento, abóbadas e telhado.
 
Vista interna de uma catedral gótica José Bracons.
Martins Fontes. São Paulo, 1992.
De acordo com a finalidade espiritual buscada no estilo gótico, as catedrais deveriam possuir: elevadas alturas, grande luminosidade e uma plena continuidade entre o início de seus pilares e o cume de suas abóbadas.
 
Esquema dos elementos estruturais Koch, Wilfried.
Martins Fontes. São Paulo, 1994.
Assim, em 1180 na construção da Catedral de Notre Dame, um novo sistema estrutural foi projetado tornando possíveis todos esses requisitos.
Formado por um complexo sistema de abóbadas ogivais (diferentemente das semicirculares românicas, eram pontiagudas, mais flexíveis e de maior adaptação), arcobotantes, esbeltos pilares e contrafortes, a estrutura da catedral gótica venceu elevadas alturas e extensos vãos.
 
Esquema dos esforços em uma catedral gótica The Builders. Marvels of Engeneering. National Geographic. Washington D.C., 1992.

Estrutura de uma catedral gótica
Como se desejava que as paredes da nave central tivessem pouca espessura e fossem cobertas por vitrais para dar luminosidade à catedral, os esforços horizontais não poderiam ser resistidos por essas paredes.
A solução encontrada foi transferi-los por meio de arcobotantes a grande e pesados contrafortes colocados na periferia da igreja.
Os esforços horizontais provenientes do telhado e das abóbadas eram recebidos pelos arcobotantes (já fora da catedral) e transferidos aos contrafortes, que os descarregavam sobre a fundação.
Desta forma, com os elementos resistentes aos esforços horizontais colocados longe das paredes, estas não precisavam ser baixas e espessas (como nas catedrais românicas), possibilitando a presença de grandes e belos vitrais (busca da grande luminosidade), grande altura e garantindo a plena continuidade da catedral, desde o início de seus pilares até o cume de suas abóbadas.
 
Exemplos de vitrais Koch, Wilfried.
Martins Fontes, São Paulo, 1994.
Também no “canteiro” da catedral estavam presentes os artesãos especialistas em fazer e juntar pedaços de coloridos e brilhantes vidros para completar os buracos deixados entre as pedras e formar enormes e belos vitrais. Várias cores eram obtidas unindo óxidos de metais e vidro fundido.
O vidro era soprado e trabalhado em forma de cilindro e, após resfriado, cortado, com a ajuda de um instrumento a base de ferro quente, em pequenos pedaços, geralmente menores que a própria palma da mão.
Desta forma, a permanência intacta da maioria das catedrais góticas, sua beleza e grandiosidade atestam o desenvolvido conhecimento de princípios estruturais detidos pelos mestres construtores e, além disso, mostram uma capacidade maior dos mesmos: o ilusionismo, pois até os dias de hoje parecem construções realizadas em outro mundo.
fonte: Obreiros de Irajá
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