OU “A LUCIDEZ ESPIRITUAL x O LUTO DA IGNORÂNCIA”

(Transcrição do Programa “Viagem Espiritual” do dia 02 de maio de 2002, com o Prof. Wagner Borges – Rádio Mundial de São Paulo – 95,7 FM)

wagnerSentado na beira do túmulo, um rapaz chorava desconsolado a perda recente dos seus pais. Triste, ele se perguntava se haveria vida para além da morte. Fervilhavam em sua mente aquelas perguntas que tanto perseguem a alma dos homens:

“De onde eu vim? Para onde eu vou? E o que eu estou fazendo aqui?

A vida se resume apenas a comer, beber, dormir, copular, e um dia chegar ao fim simplesmente?

Passar por toda uma vida aprendendo as lições de cada experiência, para quê?

Se no final, tudo acaba, será só isso a existência? É apenas isso o que resta de duas pessoas, meus pais, que eu amava tanto? É isso que restou de nosso amor? Dois cadáveres em baixo da terra e eu aqui triste, sozinho no mundo, sem saber o que se passa, cheio de perguntas e nenhuma resposta. Haverá vida para além da morte?”

Enquanto o rapaz sentado à beira do túmulo de seus pais chorava entristecido, algumas quadras a frente estava um dos coveiros do cemitério, que estava trabalhando numa cova ali por perto. Ele estava descansando, e dali ele observava o sofrimento do rapaz. Depois de tanto anos trabalhando naquele cemitério ele já havia visto milhares de vezes as mesmas cenas: familiares chorando à beira do túmulo de alguém que se foi. Porém, naquela tarde havia algo muito especial.

Ele olhava para o rapaz com um carinho diferente do seu jeito habitual. Alguma coisa lhe chamou a atenção naquele rapaz triste, mas ele não sabia exatamente o que. Além disso, outra coisa o intrigava: naquele dia ele havia levado um caderno e uma caneta para o trabalho. O material estava ali pertinho dele, mas ele não sabia por que tinha levado caderno e caneta para o seu trabalho. Ele deixou ali do lado e ficou olhando o sofrimento do rapaz.

Alguma coisa comoveu aquele coveiro.

Sem que ele soubesse, havia uma presença espiritual ao seu lado. Era o seu amparador espiritual, o seu guia espiritual, que não era um deus, não era um mito nem uma divindade, mas apenas um ser humano extrafísico, que lhe conhecia de outras vidas e que o acompanhava ocasionalmente, inspirando, protegendo e ajudando invisivelmente naquilo que lhe fosse possível. Esse mentor espiritual observava o coveiro e também observava o rapaz. E esse mentor, presença brilhante, ali pertinho, acompanhava o coveiro porque além dele ser um amigo de outras vidas, também respeitava muito o seu trabalho. Pois aquele coveiro tratava a todos com respeito. Percebia o sofrimento das pessoas e respeitava a dor delas.

E mais importante ainda: ele respeitava os restos mortais de cada criatura. E enterrava os restos mortais das pessoas com imenso respeito, e em silêncio, sem que as famílias soubessem, ele fazia preces para as pessoas. Ao final do dia em casa, ele elevava os pensamentos, abria o coração e oferecia preces a todos aqueles que tinham partido naquele dia. As famílias não sabiam disso, e a administração do cemitério também não sabia disso, mas os espíritos sabiam, e por isso, um desses espíritos amigos o acompanhava freqüentemente.

Observando o sofrimento do rapaz na quadra ao lado, o guia espiritual encostou perto do coveiro e projetou um raio de luz branquinho brilhante em sua cabeça. Imediatamente o coveiro foi tomado por uma vontade irresistível de escrever algo. Então, ele correu, pegou o caderno e a caneta que tinha deixado ali pertinho. E olhando para o rapaz, e dessa feita já influenciado pela presença do mentor, ele escreveu algumas palavras e teve a intuição de entregá-las ao rapaz.

Por alguns minutos ele escreveu bastante, sem saber exatamente o que estava escrevendo, e sem saber o porquê, sem saber que ali ele era um médium, um elemento interdimensional passando uma mensagem para alguém sofrido.

Finalizados aqueles escritos, ele foi até o rapaz, entregou o papel em silêncio e se afastou sem falar nada. E sumiu por entre as campas do cemitério.

O rapaz então pegou o papel, e também influenciado sem perceber por aquele ser invisível, começou a lê-lo. Enquanto isso, o guia espiritual projetou um raio de luz verde em seu peito e um raio de luz amarelinho no topo de sua cabeça. A luz verde era para curar as feridas emocionais, as dores da perda. E a luz amarelinha no topo da cabeça era para abrir a intuição, receber a luz do Cosmo, intuir as idéias profundas que vem do Alto e ampliar o discernimento e a inteligência.

Tocado por uma luz verde no peito e uma luz amarela no alto da cabeça, o rapaz entrou sem perceber num estado alterado de consciência, e parecia que algo invisível lhe tocava e uma voz sutil lhe falava algumas coisas. Ele não escutava com os ouvidos, mas com o coração. E essa voz lhe dizia intuitivamente de que não havia correspondência entre o seu luto e o brilho do sol derramando as partículas luminosas na atmosfera. De que cada raio de sol trazia presentes solares, presentes de luz na atmosfera, e que não havia correspondência entre a sua tristeza e aquela luz que banhava a atmosfera. De que a vida não se resume apenas a comer, beber, dormir e copular, mas também viver, amar e aprender. E uma das coisas básicas para aprender é de que a vida nunca acaba na morte, pois a consciência prossegue viva em outras dimensões. E que a morte é uma ilusão sensorial. E que as pessoas queridas só deixaram de ser percebidas pelos cinco sentidos convencionais, mas que poderiam ser percebidas pela luz da inteligência e pela luz do coração.

Então, o rapaz leu as palavras escritas pelo “coveiro mediúnico”, e estava escrito o seguinte:

“Cemitério não é lugar de ninguém. Os cadáveres não são as pessoas. Nenhum cadáver possui o brilho no olhar. Nenhum cadáver ama. Nenhum cadáver vive.

A vida vem da consciência espiritual que habita o corpo por um tempo determinado, de acordo com a própria experiência que a pessoa precisa passar. O brilho pertence à pessoa, ao espírito, a consciência. Quando esse espírito se retira, sobra só a carcaça, elemento da terra que será novamente recebido pela Mãe Terra, será absorvido por ela e transformado, será nutriente para outras formas de vida se expressarem oportunamente. Esses corpos serão absorvidos pela Terra, que é sua verdadeira dona. Mas os seus pais estão viajando por entre as dimensões, na direção de seus destinos que também não têm fim, assim como o infinito do espaço interdimensional. Eles prosseguem para outros aprendizados, em outros lugares, com outras pessoas e outras condições. E nos planos espirituais os seus pais não são mais pais, são apenas filhos de Deus, assim como todos os seres. Os pais de alguém não passam de filhos do Criador, são filhos da vida multidimensional. E essa vida prossegue por aí… em outras dimensões, em outros planos, em outros orbes, sempre seguindo…

Erga a cabeça, abra o coração, veja o brilho do sol na atmosfera, o azul do céu e o vento que passa balançando as folhas das árvores. Sinta o cheiro da vida. Perceba por sintonia a magnitude da existência. Acabe com a sua tristeza, com o seu luto, e abrace a luz do sol. Abrace o vento, sinta-o! Perceba a magnitude da vida em outras dimensões, na natureza e em você mesmo.

Um raio de luz verde no peito e um raio de luz amarelo-dourado na cabeça. E um abraço invisível que fica. E que eleva a consciência para sempre pensar no melhor.

Quais são os ossos que podem portar o brilho do amor de alguém?

Quais são os restos mortais que podem portar a beleza de um amor?

Que túmulo frio poderá portar o calor de um coração que ama?

Que cemitério poderá enterrar uma consciência espiritual que pertence a outros níveis?

Que cartório terrestre e transitório registrou o nome de um espírito milenar?

Que terra poderá absorver aquilo que pertence aos céus?

Que vermes poderão consumir aquilo que pertence às estrelas?

Que espírito eterno fará parte da cadeia alimentar de seres minúsculos dentro da terra?

Um ser que veio das estrelas nunca poderá ser alimentos de vermes em lugar nenhum. Isso é insanidade, é ignorância, é cegueira! O espírito pertence às estrelas! O corpo pertence à terra!

Por que os homens não pensam nisso?”

O rapaz terminou de ler essas palavras naquela carta mediúnica. Olhou em volta, mas o coveiro tinha sumido. Ele tinha ido embora, mas tinha deixado a mensagem. Então, o rapaz levantou-se e foi andando. Porém, em lugar de olhar para as cruzes e as tumbas, ele agora olhava para cima. E admirava a luz do sol, e admirava aquele céu azul. E ele então de alguma forma percebeu que o azul do céu e o dourado da luz do sol abrigavam os espíritos de seus pais. E que na terra ficavam apenas os restos mortais, sempre temporários, para serem transformados, reciclados, e oferecerem vida a outros seres minúsculos. E o rapaz prometeu a si mesmo, que sempre que lembrasse de seus pais, também lembraria da luz do sol e do azul do céu. E sempre pensaria neles como estrelas que partiram para outras vivências, e que ele mesmo um dia partiria também para outras vivências, além…

E que a vida não se resume apenas à existência física, mas também a existência do amor, que a morte não rompe. E a existência da consciência que nada pode matar.

Com coração e consciência, esse rapaz se retirou do cemitério e foi para a vida. Foi viver. Foi tocar sua vida da melhor maneira possível, consciente de que alguma coisa a mais existe, e que não pode ser explicada para outras pessoas, mas que pode ser sentida dentro do coração. Algo que não pode ser provado para os outros, mas que pode ser sentido dentro da
consciência que raciocina, que discerne, que sente, que pelas vias da meditação percebe a existência de outros planos, e de que a consciências nunca morrem. E que comunicam-se também, por que a morte não mata o amor. E o amor prosseguindo, sempre busca o ser amado, independente dos limites interdimensionais. O amor atravessa todos os planos, todos os níveis, e se
comunica de coração a coração. Por isso, as pessoas que ficam na terra ainda por viver mais um tempo de sua experiência, que procurem sentir a presença de seus seres queridos que já foram dentro do coração, nunca no cemitério. (1)

Que sintam dentro da consciência, nunca dentro da tumba. Pois, uma tumba e um cemitério são frios, são da terra e não podem abrigar o brilho do amor, o brilho das estrelas que pertence a consciência, e que agora levou seu brilho para outros rumos, além…Forever! (2)

Paz e Luz.

– Wagner Borges –

P.S.: Dedico essa mensagem de imortalidade da consciência a todas as pessoas que me escrevem pelo site do IPPB pedindo mensagens sobre os seus seres queridos que partiram para morar “do lado de lá”. Que elas possam vencer as limitações da dor da perda e sentirem a pulsação da vida em seus corações chamando-ás para novas experiências nesse magnífico oceano da existência. Que elas possam sentir um amor invisível que as abraça em silêncio e que não necessita de prova material para quem o sente. Que elas possam receber por intermédio desses escritos uma onda de esperança e de LUZ. Aquela mesma LUZ que anima os zilhões de sóis espalhados pela imensidão sideral e que dá a vida para todos os seres, e que é a mesma luz que mora no coração espiritual.

Aquela LUZ eterna, Pai-Mãe de todos, invisível aos olhos físicos, mas visível à inteligência e ao coração.

Aquela LUZ que inspira a escrever tudo isso, e que me diz no silêncio que a saudade sadia e que não impede de viver e aprender é mola propulsora para novos encontros na eternidade da vida em todos os planos. Porém, a saudade que paralisa o viver e só aumenta o sofrimento e o luto é nefasta, pois leva ao engano de buscar no cemitério, lar dos ossos e dos vermes da terra, o espírito imortal, que mora nas estrelas e que não nasce e nem morre, apenas entra e sai dos corpos perecíveis.

Aquela LUZ… Puro amor silencioso… Que sempre me pede para escrever que é necessário viver, amar, sorrir e seguir…

Aquela LUZ da qual Buda, Jesus e Krishna falavam e ensinavam… Aquela luz que mora no coração…

(Essa pequena nota foi escrita no dia 21 de agosto de 2002, às 19h, enquanto eu corrigia o texto e preparava uma aula para os 150 participantes do grupo de estudos e assistência espiritual do IPPB. Aqui no meu apartamento em São Paulo, numa das maiores cidades do planeta, há uma LUZ que brilha mais do que bilhões de sóis juntos e que mora no meu coração. Agradeço a ela por tudo. Essa LUZ que é mesma em todos os seres.)

(1) Nota: Enquanto digitava essas linhas, lembrei-me de uma piada enviada por um amigo:

No Cemitério

(uma outra cultura)

Um sujeito estava colocando flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês deixando um prato de arroz na lápide ao lado.

Ele se vira para o chinês e pergunta:

– Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o seu arroz?

E o chinês responde:

Ah… Sim, quando o seu vier cheirar as flores!

(2) Também lembrei-me de alguns trechos dos ensinamentos de Krishna para Arjuna sobre a imortalidade do espírito inseridos no capítulo 2 do “Bhagavad Gita” (“A Canção do Senhor”), trechos de 11 a 30:

11

O Supremo Senhor disse:
Dizendo palavras sábias, você está se lamentando pelo que não vale a pena, pois os sábios não lamentam nem os vivos nem os mortos.

12

Nunca houve nenhum tempo em que Eu fosse inexistente, nem você nem esses reis, nem haverá futuro em que não existiremos.

13

Como a alma que se encarna passa sucessivamente no mesmo corpo, da infância à juventude e à velhice, igualmente, após a morte, ela toma um novo corpo. E os sábios não se perturbam com essa transmigração.

14

Da percepção dos sentidos felicidade e tristeza surgem e desaparecem no seu devido momento, como o inverno e o verão. Você precisa aprender a tolerar isso tudo sem nunca perder a calma.

15

Ó valoroso entre os homens, saiba que quem não se altera na tristeza ou na alegria, e em ambas se mantém firme, é digno da eternidade.

16

Aqueles que podem ver a verdade face a face concluíram, estudando a natureza dos dois: o inexistente não dura e o que existe não tem fim.

17

Aquilo que pelo corpo se espalha, dando-lhe vida, é de natureza eterna. Ninguém pode destruir a nossa alma imperecível.

18

Só o corpo material certamente morrerá, mas a entidade viva é eterna, sem dimensão e também indestrutível. Lute, pois, com convicção, ó descendente de Bhárata.

19

Quem pensa que o ser vivente pode matar ou morrer não entende a realidade, mas quem tem conhecimento sabe que o Ente não mata e que não pode ser morto.

20

Nem nascimento nem morte pode acontecer ao Eu. Ele existe eternamente, transcendental ao devir. Por isso o Eu continua quando este corpo perece.

21

Como pode alguém que sabe, ó descendente de Pritha, que o Ser é indestrutível, não nascido e imperecível, matar alguma pessoa, ou fazer com que alguém mate?

22

Como quem muda de roupa e abandona as roupas velhas, a alma aceita um novo corpo descartando o corpo inútil.

23

Ninguém pode ferir a alma com nenhuma espécie de arma; não há fogo que a queime; a água não pode molhá-la nem pode o vento secá-la.

24

Nossa alma individual sendo imóvel e imutável, insolúvel e inquebrável permanece sempre a mesma.

25

Sabendo, pois, que a pessoa é invisível e imutável, imóvel e inconcebível, não lamente pelo corpo.

26

Se no entanto você pensa que só se nasce uma vez e que se morre pra sempre, mesmo assim você não tem razões para lamentar, Árjuna de braços fortes.

27

A quem nasce a morte é certa; quem morre tem que nascer; por isso, no inevitável cumprimento do dever, não há por que lamentar.

28

Todos os seres viventes são latentes no começo. Manifestam-se apenas no estado intermediário; quando são aniquilados, ficam latentes de novo. Então, por que lamentar?

29

Alguns imaginam a alma como algo assombroso; há também quem a descreva como algo assombroso; alguns ouvem falar dela como algo assombroso; mas existem alguns outros que, mesmo depois de ouvir sobre a alma muitos informes, não conseguem compreendê-la.

30

Ó descendente de Bhárata, aquele que habita o corpo é eterno por natureza; não há quem possa matá-lo; portanto, nunca lamente pelas entidades vivas.

LIÇÕES DA CIA. DO AMOR

Nós, os “nove poetas forte-suaves” da Cia. do Amor também temos nossas
“lições-TAO”. Veja uma delas:

“Quem quiser chegar aos nove mundos siderais, que comece logo dando
nove sorrisos!”

Também temos nossas “lições-Krishna”:

“Arjuna, o discípulo de Krishna, representa a própria alma humana em
luta contra a família do mau humor.

Portanto, quando a coisa apertar, pegue seu Bhagavad-Gita e saia
“bhagavad-gritando”: “Ei, alguém viu o Krishna por aí?”

Também temos a tradução espiritual (e bem brasileira) de vários
mantras:

. OM: vá trabalhar!

. OM NAMO NARAYA NAYA: ame alguém!

. OM NAMAH SHIVAYA: mande o ego se mudar, antes que Shiva se aborreça!

. OM BRAHMAN: crie algo bom!

. SAT-CHIT-ANANDA: tô legal!

Até mais!

– Cia. do Amor (A Turma dos Poetas em Flor) – (3)

(Recebido espiritualmente por Wagner Borges; Extraído do livro “Viagem Espiritual III” – 1998 – Editora Universalista)

(3) Cia. do Amor: é um grupo de cronistas, poetas e escritores brasileiros desencarnados que me passam textos e mensagens espirituais há vários anos. Oportunamente, publicarei seus textos. Em sua grande maioria, são poetas e muito bem humorados. Segundo eles, seus escritos são para mostrar que os espíritos não são nuvenzinhas ou luzinhas piscando em um plano espiritual inefável. Eles querem mostrar que continuam sendo pessoas comuns, apenas vivendo em outra dimensão, sem carregar o corpo denso. Querem que as pessoas encarnadas saibam que não existe apenas vida após a morte, mas, também, muita alegria e amor. Seus textos são simples e diretos, buscando o coração do leitor.

filipeta

 

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