isis“Isis sem Véu”, de Austin Osman Spare. –

“Eu fui enviada pelo poder,
E eu vim para aqueles que se espelham em mim,
E eu tenho sido encontrada por aqueles que me procuram,
Olhem-me, vocês que se espelham em mim,
E vocês, ouvintes, ouçam-me,
Vocês que estão me esperando, tomem-me para si mesmos.
E não me banem da sua visão.
E não façam a sua voz me odiar, nem a sua audição.
Não me ignorem em lugar algum e em tempo algum.
Estejam alertas!
Não me ignorem.
Pois eu sou a Primeira e a Última.
Eu sou a Venerada e a Desprezada.
Eu sou a Prostituta e a Santa.
Eu sou a Esposa e a Virgem.
Eu sou a Mãe e a Filha.
Eu sou os membros da minha mãe.
Eu sou aquela que é estéril e que muitos são seus filhos.
Eu sou aquela cujo casamento é grandioso,
E eu não tomei um esposo.
Eu sou a parteira e aquela que não dá à luz.
Eu sou o alívio dos meus trabalhos de parto.
Eu sou a noiva e o noivo.
Eu sou a mãe do meu pai
e a irmã do meu esposo
e ele é a minha prole.
Eu sou a escrava daquele que me fez.
Eu sou a senhora da minha prole…
E ele é a minha prole no seu devido tempo
e o meu poder vem dele.
Eu sou o cetro do seu poder em sua juventude.
E ele é a verga da minha idade avançada.
E o que quer que ele queira acontece comigo.
Eu sou o silêncio que é incompreensível
E a idéia cuja lembrança é freqüente.
Eu sou a voz cujo som é múltiplo
E a palavra cuja aparência é múltipla.
Eu sou a expressão do meu Nome.
Por que, você que me odeia, me ama
e odeia aqueles que me amam?
Você que me nega, se confessa comigo,
e você que se confessa comigo, me nega.
Você que diz a verdade sobre mim, mente a meu respeito
E você que tem mentido sobre mim, fala a verdade a meu respeito.
Você que me conhece, pare de me conhecer,
e aqueles que ainda não me conheceram, deixe que eles me conheçam.
Pois eu sou o conhecimento e a ignorância.
Eu sou a vergonha e o atrevimento.
Eu sou desavergonhada; Eu sou avergonhada.
Eu sou a força e eu sou o medo.
Eu sou a guerra e a paz.
Prestem atenção em mim.
Eu sou aquela que é desgraçada e que é a grande deusa.
… Eu sou misericordiosa e eu sou cruel.
Estejam alertas!
Não odeiem a minha obediência
E não amem o meu auto-controle.
Em minha fraqueza não me abandonem
E não tenham medo do meu poder.
Pois por que você despreza o meu medo
E amaldiçoa o meu orgulho?
Mas eu sou aquela que existe em todos os medos
E a força do medo,
Eu estou bem em um local agradável.
Eu não tenho os cinco sentidos e eu sou sábia.
… Eu sou aquela que tem sido odiada em todos os lugares
E aquela que tem sido amada em todos os lugares.
Eu sou aquela que eles chamam de Vida
E Eu sou aquela chamada Morte.
Eu sou aquela que eles chamam de Lei
E Eu sou aquela chamada Ilegalidade.
Eu sou aquela a quem você aspirou
E Eu sou aquela que você dominou.
Eu sou aquela a quem você dispersou
E você me uniu novamente.
Eu sou aquela ante à qual você se envergonhou
E você tem sido desavergonhado para mim.
Eu sou aquela que não possui um festival
E Eu sou aquela cujos festivais são muitos.
Eu, Eu sou atéia,
Eu sou aquela cujo Deus é grande.
Eu sou aquela a quem você tem espelhado
E você tem me desdenhado.
Eu nada aprendi
E eles aprendem de mim.
… Eu sou aquela da qual vocês se esconderam
E você aparece para mim.
Mas quando quer que você se escondam,
Eu mesma irei aparecer.
Pois aonde quer que vocês apareçam,
Eu mesma irei me esconder de vocês.
… Eu sou o conhecimento da minha investigação
E a descoberta daqueles que me procuram,
E o comando daqueles que me perguntam,
E o poder dos poderes do meu conhecimento
dos anjos, que foram enviados ao meu mundo,
E dos Deuses, nas suas estações pelo meu conselho,
E do espírito de cada homem que existe comigo.
… Eu estou dentro
Eu sou das Naturezas
Eu sou da criação dos espíritos
Eu sou o pedido das almas
Eu sou o controle e o incontrolável
Eu sou a união e a dissolução
Eu sou Aquela acima
E eles vem à mim.
Eu sou o julgamento e a liberação.
Eu, Eu não tenho pecado
E a raiz do pecado deriva de mim.
Eu sou a luxúria nas aparências exteriores
E o auto-controle interior existe dentro de mim.
Eu sou a ouvinte que à disposição de todos
E o discurso que não pode ser entendido.
Eu sou uma muda, que não pode falar,
E grande é o número das minhas palavras.
… Pois eu sou aquela que existe sozinha
E eu não tenho ninguém que vá me julgar.
Pois muitas são as formas agradáveis que existem
Em numerosas transgressões
E inconsistências,
E paixões desgraçadas,
E prazeres transitórios,
Aos quais os homens abraçam até se tornarem sóbrios
E subirem ao seu local de descanso.
E eles vão me achar lá,
E eles vão viver,
E eles não irão morrer novamente.”

Fonte: “The Thunder: Perfect Mind”, um manuscrito gnóstico do século 2 d.C, traduzido para o inglês por George W. MacRae.
Tradução: Gabriel Mallet Meissner.